Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

TUBERCULOSE PULMONAR COMPLICADA COM FÍSTULA BRÔNQUIO-ESOFÁGICA EM PACIENTE HIV – RELATO DE CASO

  • Samara França de Campos,
  • Beatriz Barros de Moura,
  • Bruno Alexander Barbosa,
  • Madson Silva e Sousa,
  • Francisco Kennedy Scofoni Faleiros de Azevedo

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103659

Abstract

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Estima-se que 1,7 bilhão de pessoas no mundo tenham tuberculose (TB), sendo que a coinfecção com o vírus HIV é comum, sendo a principal causa de morte em pacientes vivendo com HIV (PVHIV). Homem, 26 anos, PVHIV desde 2018, em tratamento irregular. Compareceu em consulta com queixa de perda ponderal de 20kg, febre diária, tosse seca e úlceras orais dolorosas. Relata que 20 dias antes, iniciou uso de TARV. Exames realizados durante a internação evidenciaram carga viral (CV) de 3.157.682 cópias/mm³, contagem de CD4 de 40/mm³ e BAAR positivo em escarro. Tomografia (TC) de tórax com opacidades pulmonares bilaterais, e linfadenomegalias para-aórticas. Recebeu alta hospitalar em uso de esquema RIPE e profilaxias. Após 21 dias, paciente retornou com queixa de disfagia e tosse pós-prandial intensa. Em nova TC, identificou-se massa envolvendo o hilo pulmonar esquerdo, traqueia distal e esôfago, com conteúdo necrótico, e trajeto fistuloso entre esôfago e brônquio fonte esquerdo. Realizada broncoscopia, com biópsia de trajeto fistuloso, com resultado de processo inflamatório crônico, granulomatoso, sugerindo tuberculose. Avaliado pela cirurgia torácica e, devido a presença de múltiplas fístulas, somado à baixa performance, optou-se pela realização de esofagostomia com colocação de tubo T + drenagem pleural. Após 07 dias, evoluiu com hemoptise, hematêmese e hemorragia por orifício dos drenos. Realizada toracotomia de urgência, sendo diagnosticado no intra-operatório com úlcera irregular de aorta torácica, de 7cm de extensão. Após o clampeamento parcial da aorta e controle da hemorragia, foi feita rafia da lesão. Entretanto, o paciente evoluiu para óbito. A TB endobrônquica é caracterizada pelo envolvimento difuso da árvore traqueobrônquica, podendo levar à ulceração. A formação de fístulas entre as vias aéreas e o esôfago é rara, com poucos relatos na literatura, especialmente quando relacionadas a síndromes aórticas agudas. O diagnóstico clínico é difícil devido à falta de sintomas típicos. Mesmo com uma equipe médica preparada, artigos indicam que o tratamento assertivo é desafiador, com altas taxas de mortalidade. A confirmação do diagnóstico de lesões aórticas secundárias à TB é outra dificuldade devido à natureza não primária dessas lesões, o que requer exame histopatológico. No entanto, com base no quadro clínico do paciente e nas imagens de TC, permanece como a principal suspeita diagnóstica devido à localização anatômica e à evolução aguda do quadro.

Keywords