Licere (Sep 2012)
Imaginário Radical e Educação Física
Abstract
Este estudo propõe uma leitura do esporte de rendimento, com o aporte teórico do imaginário radical, considerando as dimensões sócio-históricas e subjetivas na prática de corridas de longa distância. De início, a amostra da pesquisa foi composta por oito sujeitos-atletas do grupo de corredores de rua Sport Vida. Assim, ao fazermos uma análise sócio-histórica dessa prática esportiva, consideramos em conjunto os aspectos socioculturais e seguimos com o objetivo de compreender os sentidos a ela atribuídos pelos sujeitos-atletas, para além do aspecto econômico e do consumo. Observamos que, mesmo o atletismo envolvendo aspectos relacionados ao rendimento, os atletas criam outros sentidos para continuarem desenvolvendo essa prática, como as amizades, o estar juntos com os amigos. Eles rompem com a lógica determinista do esporte – ultrapassar o limite do corpo, vencer a qualquer preço, sobrepujar os colegas –, buscando momentos de solidariedade, um esporte sem violência e afetivo. Percebemos, porém, contradições, no discurso de alguns atletas, quando confessam que o mais importante é o amor pelo esporte, as amizades, mas reclamam da falta de patrocínio e de apoio para poderem treinar com mais tranquilidade. Esta pesquisa também revelou que, nessa prática, os atletas constroem uma obstinação, devido ao sacrifício que ela impõe ao corpo, porém isso é transformado em prazer, excitação e busca de fortes emoções. Valores éticos também são construídos e valorizados no atletismo, o que é observado quando os sujeitos-atletas fazem críticas contundentes ao uso de substâncias químicas por aqueles (as) que o praticam. Ao tomarmos o imaginário radical como principal fonte teórica para esta pesquisa, fica evidente que o esporte pode ser ressignificado, desde que esse imaginário seja potencializado no ensino da educação física, provocando nos alunos uma reflexão crítica sobre a sociedade e sobre o esporte, que passa a ser direcionado para a solidariedade, com democracia e autonomia. Enfim, o estudo revelou que o esporte de rendimento é capaz de criar laços sociais e estruturar relações à sua volta.