Musica Theorica (Aug 2023)
Implicações da indeterminação na obra para violão solo de Leo Brouwer
Abstract
O presente artigo objetiva investigar as implicações da indeterminação na obra para violão solo de Leo Brouwer, contribuindo, assim, para enriquecer o discurso musical dos intérpretes ao apresentar novas perspectivas analíticas sobre a obra do compositor. As obras analisadas neste artigo — La Espiral Eterna (1973), Parabola (1973) e Tarantos (1974) — apresentam características que Jonathan Kramer associa à música pós-moderna, dentre as quais se destaca a indeterminação. O conceito de indeterminação em relação à performance, formulado por John Cage, orientou a análise das composições, através da qual foram identificados elementos cuja determinação é propositadamente delegada ao intérprete, assim como elementos cuja indeterminação decorre das limitações da notação musical. A análise das obras demonstrou que a indeterminação dos seus elementos é parcial e que cada obra apresenta diferentes graus de indeterminação. A investigação acerca do significado destas indeterminações na obra de Leo Brouwer fundamentou-se, também, nas formulações de Jonathan Kramer acerca da escuta pós-moderna — que propõe que o significado de uma composição é construído a partir da interação entre o texto musical, o intérprete e o ouvinte — e da percepção do tempo na música — compreendida como a principal forma através da qual o ouvinte constrói o significado musical. Conclui-se que os diferentes tipos de indeterminação permitem ao intérprete inscrever o seu próprio significado na obra, participando ativamente na construção do significado por parte do ouvinte.