Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
DESCONTINUAÇÃO DE TRATAMENTO EM PACIENTES COM LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA, COM RESPOSTA MOLECULAR PROFUNDA E EFEITOS ADVERSOS RELACIONADOS AO INIBIDORES DE TIROSINA QUINASE
Abstract
Objetivo: Avaliar o sucesso da descontinuação de tratamento com inibidores de tirosinoquinase (ITQ) em pacientes com leucemia mieloide crônica (LMC) em resposta molecular profunda e eventos adversos relacionados a estas drogas. Materiais e métodos: Estudo clínico transversal retrospectivo com uma amostra de 173 pacientes de um hospital de referência do Brasil que foram acompanhados em nível ambulatorial entre agosto de 2022 e de 2023. Os dados clínicos foram extraídos dos prontuários físicos e eletrônicos. Resultados: Dos 173 pacientes da amostra, 15 (8,7%) deles estavam em resposta molecular profunda e apresentavam eventos adversos relacionados ao tratamento com ITQ. Destes pacientes, 11 (73,3%) são homens. A mediana de idade é de 64 (43-82) anos. O tempo mediano de tratamento, com ITQ, foi de 18 anos (9-22). Oito (53,3%) utilizaram apenas imatinibe, quatro (26,7%) dasatinibe e três (20%) nilotinibe. Os inibidores de segunda geração foram usados em segunda ou terceira linha. Quatorze pacientes (93,3%) estavam em fase crônica e um (6,7%) em fase acelerada. A mediana de tratamento com imatinibe foi de 16 anos (11-20), com dasatinibe foi de 11 anos (9 -14) e com nilotinibe de 14 anos (9-14). Os pacientes estavam em acompanhamento clínico e molecular regular a cada seis meses e apresentavam resposta molecular profunda por uma mediana de 10 anos (5 -16). Dentre os fatores que levaram à descontinuação, 12 (80%) apresentaram efeitos colaterais que foram: 6 (40%) ao imatinibe sendo três casos de nefrotoxicidade, dois de intolerância do trato gastrointestinal e um caso de amaurose; 4 (26,7%) ao dasatinibe com um caso de derrame pericárdico, um de derrame pleural de repetição e dois de intolerância gastrointestinal; 2 (16,7%) ao nilotinibe, com um caso de derrame pericárdico e um de doença arterial oclusiva. Por fim, 3 pacientes (20%) expressaram o desejo de interromper o uso (1 nilotinibe e 2 imatinibe). Em relação ao paciente que estava em fase acelerada, a interrupção se deu sete anos após o diagnóstico e cinco anos após manutenção de resposta molecular profunda, em um cenário de e intolerância gastrointestinal associado a um carcinoma espinocelular de língua. Apenas um (6,7%) paciente apresentou recaída molecular e houve necessidade de retornar ao tratamento sete meses após a interrupção. Os demais pacientes, 14 (93,3%), persistem em protocolo de remissão livre de tratamento até o momento. Discussão: A descontinuação da medicação pode ser necessária em pacientes que apresentem efeitos adversos aos inibidores de tirosina quinase, por desejo do paciente ou outros motivos (como falta de acesso). Estudos sugerem que pode ocorrer melhora dos efeitos colaterais associados e que a sobrevida livre de recidiva molecular pode ser próxima de 50% em até dois anos naqueles que cumprem os requisitos. Nesta coorte, observamos que os pacientes estavam em média há dez anos em resposta molecular profunda, o que pode ser um fator importante no excelente resultado obtido. Não observamos diferenças entre os pacientes que usaram imatinibe e inibidores de segunda geração. Conclusão: Apesar do número pequeno da coorte, observamos que apenas um paciente perdeu resposta molecular, tanto dentre aqueles que usaram primeira quanto segunda geração, o que pode ser consequência do longo tempo prévio de tratamento. A descontinuação de tratamento deve ser considerada naqueles pacientes que estão em remissão molecular profunda e apresentam efeitos adversos.