Mana (Oct 2002)
A psicanálise como linguagem social: o caso argentino
Abstract
O recente livro de Mariano Plotkin sobre a "cultura psicanalítica" na Argentina suscita amplas discussões sobre o papel da psicanálise na dinâmica das diferentes sociedades nacionais no âmbito da cultura ocidental moderna. É particularmente rico para a comparação entre aquele país e o Brasil, onde também se deu uma difusão importante da psicanálise em período homólogo ao da Argentina. O fenômeno em questão mereceu de Plotkin uma análise muito complexa e minuciosa, reveladora das principais tensões constitutivas da história argentina ao longo do século XX, envolvendo as relações com a psiquiatria e a medicina, com a psicologia, com o "peronismo" e com a militância de esquerda. Sublinho a importância de sua demonstração do caráter de "linguagem social" que assumiu a "cultura psicanalítica" na sociedade argentina; assim como a da descrição do processo de difusão da psicanálise pelos meios de comunicação (que ensejou uma amplitude social de recepção maior do que a que se deu no Brasil). Enfatizo também a relevância analítica de sua demonstração da associação dessa difusão a um "cientificismo" generalizado na sociedade argentina, associado às características peculiares da "modernização" cultural desse país.The recent book by Mariano Plotkin about the "psychoanalytical culture" in Argentina brings forth ample discussions about the role of psychoanalysis in the dynamics of different national societies within the scope of modern Western culture. The comparison between Argentina and Brazil is particularly rich, as also in the latter a significant diffusion of psychoanalysis took place during an homologous period. Plotkin presents a very complex and minute analysis of the phenomena in focus. His analysis reveals the main constitutive tensions of Argentine history during the XXth century, approaching the relationships with psychiatry, medicine, psychology, as well as with "Peronism" and lef-wing militancy. I emphasize the importance of his demonstration that "psychoanalytical culture" has become a "social language" in Argentine society, as well as the importance of his description of the diffusion of psychoanalysis by mass communication (which led to a wider social range of reception than in Brazil). I also emphasize the analytical relevance of his demonstration of the association between this diffusion and a generalized "scientism" of Argentine society, which is connected to the particular characteristics of that country's cultural "modernization".
Keywords