Revista Águas Subterrâneas (May 2015)

Avaliação da Presença de Cryptosporiium spp. e Giardia spp. em Águas Minerais Naturais de Nascentes e Enteroparasitoses em duas Comunidades Rurais de Campos do Jordão, SP, Brasil.

  • Nilson Branco

Journal volume & issue
Vol. 20, no. 2

Abstract

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A presença de espécies dos protozoários Cryptosporidium e de Giardia em água, principalmente as destinadas ao consumo humano, assumiu nos últimos 22 anos grande importância em Saúde Pública devido à veiculação hídrica de suas formas infectantes. Esses protozoários causam gastroenterites no ser humano e em diversas espécies animais. A transmissão desses protozoários ocorre pela via fecal-oral mediante a ingestão de água ou de alimentos contaminados, ou pelo contato direto (pessoa-a-pessoa ou animal-pessoa; transmissão zoonótica). A persistência de oocistos e cistos no ambiente e a grande resistência aos processos de desinfecção contribuem com a veiculação hídrica desses protozoários. Numerosos surtos de gastroenterite aconteceram nos últimos 25 anos devido à ingestão de água de consumo e involuntariamente águas recreacionais contaminadas. No Brasil é crescente a degradação de águas superficiais e subterrâneas devido à deficiência de infra-estrutura no sistema de esgotamento sanitário. Análises realizadas pela Sabesp sobre a qualidade microbiológica da água proveniente das fontes naturais da cidade de Campos do Jordão (nordeste do estado de São Paulo) revelam que 13, de um total de 22 fontes, apresentaram padrão de qualidade impróprio para o consumo humano. Considerando que a população local utiliza amplamente essa água para o consumo (ingestão e preparo de alimentos) e que a existência de situações que implicam em risco potencial de contaminação das mesmas são freqüentes no município, o objetivo deste trabalho foi investigar a ocorrrência de Cryptosporidium sp. e de Giardia sp. em amostras procedentes das principais fontes, durante 12 meses. Para tanto, utilizou-se a técnica de filtração em membranas para concentração e visualização dos protozoários aplicando anticorpos monoclonais fluorescentes. No período compreendido entre junho de 2003 e maio de 2004, foi possível detectar a presença de, pelo menos, um dos protozoários patogênicos em 25,0% (3/12) das fontes estudadas, com concentrações que variaram de 0,2 a 0,3 oocistos de Cryptosporidium sp. e 0,07 a 0,1 cistos de Giardia sp. por litro. O inquérito parasitógico realizado em duas comunidades rurais pertencentes ao vii município revelou que 49,2% (91/185) das pessoas apresentavam parasitoses intestinais. A faixa etária dos participantes variou de 0 a 72 anos. As prevalências dos protozoários patogênicos foram: Cryptosporidium sp. (8,1%), Giardia duodenalis (5,9%), Blastocystis hominis (4,9%) e Entamoeba histolytica/dispar (2,7%); e dos não patogênicos: Entamoeba coli (19,5%), Iodamoeba bütschlii (4,3%) e Endolimax nana (0,5%). E para os helmintos intestinais foram: Ascaris lumbricoides (14,9%); Trichuris. trichiura (9,7%); ancilostomideo (1,1%), Taenia sp. (1,1%), Enterobius vermicularis (1,1%) e larva de nematódeo (1,1%). As diferenças estatísticas não foram significantes para as parasitoses observadas quanto ao sexo (p=0,453) e as diferentes faixas etárias (p=0,213). As condições ambientais (relevo, disponibilidade hídrica, ocupação desordenada, áreas de pastagem) e focos de contaminação (esgoto sanitário; fezes de animais) existentes próximo às nascentes foram fatores que contribuíram com a contaminação das águas. A ausência de água tratada, de sistema de escoamento sanitário e as condições sócio-econômicas das comunidades rurais incluídas no inquérito parasitológico podem ter contribuído para a elevada prevalência das parasitoses intestinais.