Cadernos de Linguística (Dec 2020)
Os Kiriri dos “sertões” da Bahia
Abstract
Até meados do século XVIII, a América portuguesa caracterizava-se por um multilinguismo generalizado (MATTOS E SILVA, 2004), sendo o português uma das diversas línguas faladas e por uma minoria da população. A política linguística implementada pelo governo de D. José I (1750-1777), por meio do Diretório dos índios, determinou o uso da língua portuguesa como obrigatória entre as populações indígenas e proibiu o uso das línguas nativas dos diversos grupos etnolinguísticos e da(s) língua(s) geral(is), o que desempenhou um papel crucial para o glotocídio testemunhado a partir da segunda metade dos Setecentos. Nos “sertões” da Bahia, o povo Kiriri, através de um processo de substituição linguística, deixou de falar sua língua, o Kipeá, e, progressivamente, adotou o português como língua materna. A partir da demanda dos Kiriri por assessoria linguística, foi criada a Ação Curricular em Comunidade e Sociedade (ACCS) – Educação Diferenciada e Revitalização de Línguas Indígenas, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), com o objetivo de discutir os processos de enfraquecimento e substituição das línguas indígenas pelas línguas nacionais dominantes, dando ênfase às implicações sociopolíticas globais e linguísticas que estão envolvidas nesse processo. Assim, no presente trabalho, apresentamos um relato das experiências da referida ACCS na formação dos sujeitos envolvidos na elaboração e definição das políticas linguísticas para os Kiriri do sertão baiano, caracterizadas pela premente necessidade de realização de um projeto de documentação linguística que sirva de base para revitalização da língua indígena desejada e demandada pela comunidade.
Keywords