Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

O CONTEXTO ATUAL E PERSPECTIVAS PARA AS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS

  • CDS Porto,
  • MLM Martins,
  • AB Lopes,
  • LBG Silva,
  • LD Ferreira,
  • CCB Silva,
  • GPN Goequing,
  • WJP Silva,
  • EB Tressoldi,
  • LSM Melo

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S142

Abstract

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Introdução: As imunodeficiências primárias (IDPs), também conhecidas como erros inatos da imunidade, são disfunções do sistema imune geneticamente herdadas. Elas causam maior suscetibilidade a patologias, tais quais infecções, malignidades, alergias e doenças autoimunes. Hodiernamente, devido ao sequenciamento genético de nova geração (NGS), tem ocorrido o reconhecimento de novas IDPs e de variantes patogênicas atreladas a elas. Logo, estão sendo reformuladas as concepções para as IDPs. Objetivo: Analisar o contexto atual das imunodeficiências primárias, bem como as perspectivas geradas pelas novas descobertas. Materiais e métodos: Trata-se de uma revisão narrativa de literatura. Foi realizada uma busca por artigos dos últimos 5 anos sobre o tema no banco de dados PUBMED. Foram utilizados os descritores: “imunodeficiência primária”, “erros inatos da imunidade” e “genética” - fornecidos pela base de dados MESH -, com os operadores booleanos OR e AND. A busca gerou 1.038 resultados. Foram excluídos relatos de caso; assim como editoriais, e incluídos 13 artigos - dentre revisões e metanálises. Resultados: As IDPs são disfunções imunes, geralmente raras, de herança monogênica, que predispõem condições infecciosas e não infecciosas. De acordo com a União Internacional de Sociedades Imunológicas (IUIS), as IDPs dividem-se em 10 grupos, sendo eles: imunodeficiências celular e humoral, imunodeficiências combinadas sindrômicas, deficiências de anticorpos, doenças de disfunção imune, doenças de disfunção fagocitária, defeitos na imunidade inata, doenças autoinflamatórias, deficiências do complemento, doenças devido à falência da medula óssea e imunodeficiências fenocópicas. Em 2022, foram reportadas 485 IDPs, representando um aumento de 55 variantes identificadas em relação à classificação de 2019. Os mediadores imunológicos são diversos, podendo incluir medicamentos, alimentação, citocinas, microRNA e outros. Destaca-se dentre eles a microbiota, associada a desregulações imunológicas por desequilíbrios no eixo dieta-microbiota-hospedeiro-imunidade, que geram manifestações clínicas e complicações. Discussão: O uso de tecnologias, como testes bioquímicos, celulares e NGS aprimorou a identificação das causas e a categorização das IDPs, reforçando a necessidade de se desenvolver novas técnicas e, porventura, associá-las com a inteligência artificial. A classificação permite compreender a fisiopatologia da doença, expondo qual instrumento da imunidade foi modulado geneticamente. Ademais, amplia a população indicada para testes de rastreio, favorecendo um diagnóstico preciso. Assim, será possível estabelecer tratamentos personalizados que aumentem a expectativa e qualidade de vida. Dentre as novas medidas terapêuticas, destacam-se terapias gênicas, transplante de células-tronco hematopoiéticas e outros fármacos, como anticorpos monoclonais, inibidores da fixação do complemento e inibidores do crescimento celular. É fundamental que esse conhecimento seja acessível mundialmente, com vistas a favorecer o reconhecimento das IDPs e a equidade na saúde. Conclusão: Com o desenvolvimento de testes genéticos, bioquímicos e celulares, novas IDPs e suas etiologias são constantemente descobertas. Tal avanço permitirá a elaboração de diagnósticos efetivos e tratamentos individualizados. Indubitavelmente, esses recursos devem ser compartilhados, para que se promova o acesso universal à saúde.