Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
VALIDAÇÃO DA TÉCNICA DE TRATAMENTO DE HEMÁCIAS COM ENZIMAS TRIPSINA E ALFA-QUIMIOTRIPSINA EM UM LABORATÓRIO DE IMUNO-HEMATOLOGIA DE REFERÊNCIA
Abstract
Introdução: As enzimas proteolíticas, tais como papaína e bromelina, são comumente utilizadas nos laboratórios de imuno-hematologia como ferramentas importantes na identificação de antígenos e anticorpos eritrocitários de doadores de sangue e pacientes. O tratamento enzimático leva à clivagem de proteínas da membrana eritrocitária, destruição ou enfraquecimento do antígeno, potencializando a interação antigênica com anticorpos específicos. Outras enzimas, tais como trispsina e alfa-quimiotripsina, são também importantes na resolução de casos complexos em pacientes que apresentam pesquisa de anticorpos irregulares positiva de difícil identificação. Ademais, o uso dessas enzimas na rotina laboratorial exige uma validação para a garantia da qualidade e confiabilidade dos resultados. Objetivo: : Descrever o processo de validação da técnica de tratamento de hemácias com as enzimas proteolíticas tripsina e alfa-quimiotripsina no Laboratório de Imuno-hematologia de Pacientes (LIHP) da Fundação Hemocentro de Brasília (FHB). Materiais e métodos: : A validação foi do tipo prospectiva com amostragem não probabilística do tipo intencional, composta por 20 (vinte) amostras de hemácias de doadores com fenótipos conhecidos para os sistemas Duffy (Fya, Fyb) e MNS (M, N, S, s). A fenotipagem foi realizada em cartão gel-teste antes e após o tratamento com as enzimas testadas. Foram definidos os seguintes critérios de validação: 1. Acordância: corresponde ao conceito de precisão sob condições de repetitividade aplicado ao teste qualitativo; 2. Repetitividade: grau de concordância entre os resultados de medições sucessivas de um mesmo mensurado, efetuadas sob as mesmas condições de medição; 3. Precisão intermediária: grau de concordância entre os resultados de medições sucessivas de um mesmo mensurado, efetuadas sob condições variadas de medição interna. Os critérios de aceitação foram: a qualificação de instalação e operacional dos equipamentos utilizados; e acordância maior ou igual a 80%. Resultados e discussão: : A enzima tripsina possui a ação de destruir completa ou parcialmente a glicoforina A (GPA), uma sialoglicoproteína que está associada aos antígenos eritrocitários M e N, do sistema sanguíneo MNS, e aos antígenos de alta frequência dos sistemas Dombrock, Chido e Gerbich 2 e 4. Já a enzima alfa-quimiotripsina possui uma atividade distinta, destruindo as glicoforinas B (GPB), que estão ligadas aos antígenos S e s, do sistema MNS e aos antígenos eritrocitários Fya e Fyb, do sistema Duffy, além de antígenos de alta frequência, como Cartwright (Yta e Ytb) e Cromer. Das 20 amostras de doadores tratadas com essas enzimas, 100% foram susceptíveis ao tratamento, isto é, apresentaram alterações na expressão antigênica. No tratamento das hemácias com a enzima tripsina, observou-se que 15% das amostras apresentaram destruição completa dos antígenos M e N e em 85% dos casos houve destruição parcial, com diminuição da intensidade de reação. Já o tratamento com a enzima alfa-quimiotripsina resultou na destruição de todos os antígenos testados: Fya, Fyb, S, s, resultando em 100% de efetividade. Conclusão: Os resultados obtidos apresentaram 100% de conformidade com os resultados esperados, atendendo aos critérios de validação pré-estabelecidos: acordância, repetitividade e precisão intermediária. O processo de validação da técnica de tratamento de hemácias com as enzimas proteolíticas tripsina e alfa-quimiotripsina garante a qualidade e segurança do uso desses insumos na rotina imuno-hematológica, a fim de auxiliar na identificação de aloanticorpos contra antígenos eritrocitários e assegurar maior celeridade e autonomia do LIHP diante de casos complexos.