Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)
EQUINOCOCOSE HUMANA: CISTO GIGANTE LEVANDO À COMPRESSÃO VESICAL
Abstract
A Equinococose humana Cística (EC) é uma parasitose endêmica na América Central e do Sul, sendo descrita no Brasil nas regiões norte e sul. Em humanos é causada principalmente pelas espécies Equinococcus granulomatosus, E multilocularis e E volgeli, que têm por hospedeiros definitivos o cachorro e a raposa, e intermediários as ovelhas, lhamas e outros herbívoros. O homem é hospedeiro acidental e o quadro clínico depende da localização e do tamanho dos cistos hidáticos. Localizam-se preferencialmente no fígado (70%) e nos pulmões (20%), crescendo em média 0,5-0,7 cm ao ano, podendo demorar décadas para causar sintomas. O prognóstico é pior quando a doença acomete órgãos nobres como coração, sistema nervoso e rins. Nesses casos a cirurgia pode ser necessária e é de alto risco, pois, a ruptura do cisto pode liberar antígenos em grande quantidade, causando reação alérgica e choque anafilático. Também pode levar à implantação de cistos secundários em outros locais. Relato de caso: paciente do sexo masculino, com 37 anos, natural de La Paz, Bolívia, da região rural, com antecedentes epidemiológicos de criação de cabras, ovelhas, cachorros e lhamas. O paciente era procedente de São Paulo, onde residia há quatro anos, sem comorbidades ou vícios, que evoluiu com retenção urinária aguda, sem antecedentes patológicos urinários. Foi realizada tomografia computadorizada da pelve e do abdômen, que mostrou múltiplas lesões císticas septadas na cavidade peritoneal, destacando-se a maior em mesogástrio com 13,9 × 5,3 cm. Esse cisto gigante determinou compressão da bexiga, justificando o quadro clínico de retenção urinária. O aspecto radiológico era sugestivo dessa patologia o que facilitou a hipótese diagnóstica de EC. A sorologia para Echinococcus granulosus foi reagente com título de 1:1280. Iniciado tratamento com Albendazol (800 mg/dia), evoluindo sem retenção urinária. É importante frisar que o objetivo do tratamento com anti-parasitário não é o de reduzir o volume cístico, mas sim de interromper o crescimento do parasita. No início do tratamento ocorreu aumento discreto das transaminases, provável efeito colateral do benzimidazólico, porém sem necessidade de troca medicamentosa. Recebeu alta da internação com seguimento ambulatorial e em uso de Albendazol por pelo menos três meses, com programação cirúrgica devido ao grande volume do cisto e consequente repercussão geniturinária apresentada pelo doente.