Revista Espaço (Jun 2016)
O que dizem surdos e gestores sobre vestibulares em Libras para ingresso em universidades federais
Abstract
A educação das pessoas com deficiências, ao longo dos últimos anos, vem sendo contemplada com diversas políticas públicas decorrentes de importantes avanços legislativos, o que, de acordo com os dados do Censo da Educação Superior (2001 - 2013), tem causado um aumento no número de matrículas nessa modalidade de ensino, tanto na esfera pública como na privada. O Decreto nº. 5.626 de 2005 tece considerações sobre a educação bilíngue para surdos e prevê a possibilidade de avaliação de surdos por meio de mecanismos alternativos. Inseridos nesse contexto e com foco em vestibulares vídeo-gravados em Língua Brasileira de Sinais (Libras), buscamos possíveis respostas à pergunta norteadora do presente estudo: quais as impressões dos candidatos surdos e gestores de vestibulares em Libras, no que tange as barreiras de acessibilidade (linguística, cultural e pedagógica) para a seleção ao Ensino Superior Federal gratuito? O presente estudo teve como objetivo principal investigar como os surdos que prestaram o vestibular vídeo-gravado em Libras de duas universidades federais, perceberam o atendimento às suas necessidades linguísticas, bem como as impressões dos gestores dessas avaliações. Lançamos mão da pesquisa qualitativa de natureza exploratória e descritiva e entrevista semiestruturada. Traduzimos todas as entrevistas e categorizamos os dados, identificando divergências e convergências presentes nos depoimentos. Como embasamento teórico, nos apoiamos em autores como Vygotsky (1984, 1989, 1991, 2008), Luria (1980, 1990), Lacerda (1996, 1998, 2000, 2006, 2009, 2012, 2013), Fernandes (2004, 2006, 2008, 2011) e outros. Na construção metodológica, nos pautamos em Lacerda (2003), Spink (2000), Costa (2015) e outros. Os resultados apontam que os surdos ficaram satisfeitos com os vestibulares em Libras de ambas as universidades, pois alegam ter suas necessidades linguísticas e culturais atendidas. Entretanto, a acessibilidade não foi suficiente para que todos fossem aprovados, pois existe um déficit na construção de conhecimentos acadêmicos no atendimento às pessoas surdas concernente à Educação Básica, que precisa ser superado pela efetivação de uma educação de qualidade nas escolas brasileiras. Foram ainda apontados pelos entrevistados alguns problemas técnicos que envolvem a vídeo-gravação, que, se tomados em consideração, podem nortear futuras ações relativas à elaboração do vestibular em Libras, visando à ampliação e aprimoramento desta oferta.