Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

ANÁLISE ESPACIAL DA REDUÇÃO DE CASOS NOVOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL NO BRASIL NO PRIMEIRO ANO DA PANDEMIA DE COVID-19

  • Juliana Santos Teles,
  • Josefa Rayane Santos Silveira,
  • Renato Brito dos Santos Júnior,
  • Íris Tarciana de Freitas Cunha,
  • Tássia Nayane Vieira dos Santos,
  • Maria Clara Menezes Nocrato Prado,
  • Guilherme Reis de Santana Santos,
  • Tatiana Rodrigues de Moura,
  • Shirley Veronica Melo Almeida Lima,
  • Allan Dantas dos Santos,
  • Caíque Jordan Nunes Ribeiro

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103510

Abstract

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Introdução/objetivo: A leishmaniose visceral (LV) é uma doença tropical negligenciada e potencialmente letal. Ao considerar que o Brasil é responsável pela notificação de mais de 90% dos casos da América Latina, a vigilância epidemiológica possibilita a caracterização espacial, sazonal e cíclica dos novos casos. Como a covid-19 demandou a reorganização dos sistemas de saúde, hipotetizamos que houve redução da notificação de casos de LV na pandemia. Diante disso, este trabalho teve como objetivo analisar a dinâmica espacial da notificação de casos novos LV no Brasil em 2020, no contexto da pandemia da covid-19. Métodos: Trata-se de um estudo ecológico de série temporal que utilizou análise espacial, cujas unidades de análise foram os 5.570 municípios brasileiros e a população os casos novos de LV registrados entre 2015 e 2020 no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O p-score foi calculado para estimar a variação percentual dos registros de casos novos de LV. Os índices de Moran global e local univariados foram utilizados na análise espacial para a identificação de padrões espaciais por meio da aglomeração de municípios com taxas semelhantes. Resultados: No Brasil, entre 2010 e 2019, a incidência de LV apresentou progressiva redução. Além disso, a análise da distribuição mensal dos casos novos de LV por estado no ano de 2020 mostrou que a maioria dos estados vinham sofrendo redução na incidência da doença. No entanto, a partir de maio, tal redução se tornou acentuada em diversos estados, especialmente na região Nordeste e Sudeste. Ademais, o índice de Moran global univariado foi utilizado na análise da autocorrelação espacial, a qual evidenciou a existência de dependência espacial na ocorrência de novos casos de LV, tanto no período de 2015-2019 (I = 0,491; p < 0,001), quanto no ano de 2020 (I = 0,031; p = 0,009). Conclusão: A distribuição da LV no Brasil mostrou-se dependente do território analisado, formando clusters espaciais de alto risco compostos por municípios da região Nordeste, Norte e Centro-oeste. Entretanto, embora as reduções expressivas na detecção dos casos de LV possam parecer um bom cenário, são uma preocupação importante para a saúde pública, pois a sobreposição geográfica entre covid-19 e LV e a sobrecarga do sistema de notificações podem ter contribuído para a diminuição dos registros. Sendo assim, a redução significativa na incidência de LV em 2020 deve alertar para o fortalecimento do sistema de vigilância epidemiológica.

Keywords