Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

TESTE DIRETO DE ANTIGLOBULINA E ELUATO POR CONGELAMENTO PARA INVESTIGAÇÃO DE DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL POR INCOMPATIBILIDADE ABO

  • LO Garcia,
  • DMR Speransa,
  • SB Leite,
  • L Sekine,
  • JPM Franz

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S786

Abstract

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Introdução/objetivos: O Teste da Antiglobulina Humana Direto (TAD) auxilia no diagnóstico de doença hemolítica perinatal, no entanto, a eluição tem se mostrado um teste com maior sensibilidade para detecção dos anticorpos envolvidos na incompatibilidade ABO e para auxiliar a decisão médica. O objetivo deste estudo foi avaliar e comparar a sensibilidade entre os testes TAD e eluato por congelamento na detecção de icterícia por incompatibilidade materno-fetal. Materiais e métodos: Realizamos os testes de TAD e eluição por congelamento (LUI) em amostras de recém-nascidos do grupo A, B ou AB com tipagem materna do grupo O, independente do resultado do TAD. As amostras foram oriundas das solicitações de exame dos neonatos nascidos no centro obstétrico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) entre maio de 2019 e janeiro de 2020. Os dados clínicos e laboratoriais foram verificados no prontuário eletrônico, após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa do HCPA. Resultados: Das 137 amostras analisadas, observamos que 80,3% apresentavam incompatibilidade O/A e 19,7% O/B. Do total de amostras avaliadas, 27% apresentavam TAD positivo e 83,2% LUI positivo (p = 0,005), sendo 48,9% de anti-A, 22,6% de anti-AB e 11,7% de anti-B. Em relação à análise da clínica dos neonatos, 65 (47,4%) apresentaram icterícia, 21 (15,3%) realizaram fototerapia e 9 (6,6%) realizaram transfusão de concentrado de hemácias (CH), nenhum necessitou de exsanguíneo transfusão. Ao correlacionar a clínica dos neonatos com os testes imuno-hematológicos, do total de 65 pacientes que apresentaram icterícia, apenas 19 tinham TAD positivo (p = 0,697). Apenas 1 neonato com TAD positivo realizou transfusão de CH (p = 0,444) e 8 realizaram fototerapia (p = 0,284). Dos 114 neonatos que obtiveram o teste de LUI positivo, 59 (50,8%) apresentaram icterícia (p = 0,021) e 21 realizaram fototerapia, ou seja, todos os pacientes que foram submetidos a fototerapia tiveram teste de LUI positivo (p = 0,004), ambos os achados foram considerados estatisticamente significativos. Dos 9 neonatos que receberam transfusão de CH, 7 (77,8%) obtiveram LUI positivo, porém este dado não foi estatisticamente significativo (p = 0,663). Observamos que 40 (54,1%) neonatos que apresentaram LUI positivo e TAD negativo apresentaram icterícia e 19 (52,8%) dos pacientes que apresentaram ambos os testes positivos exibiram o histórico de icterícia. Ao analisarmos a realização da fototerapia com os resultados dos testes imuno-hematológicos, verificamos que 13 (16,9%) neonatos apresentaram LUI positivo e TAD negativo; 8 (21,6%) LUI positivo e TAD positivo. Discussão: Neste estudo, a frequência de icterícia e a necessidade de fototerapia na população neonatal foi equivalente nos grupos com LUI positivo/TAD negativo e LUI positivo/TAD positivo. Desta forma, o risco de hemólise imunomediada por incompatibilidade ABO parece ter o mesmo comportamento biológico, nos pacientes com TAD positivo ou naqueles que apresentam apenas eluato positivo. Com essa avaliação será possível identificar precocemente uma possível incompatibilidade ABO como causa de hemólise ou icterícia, permitindo um manejo mais rápido e seguro para os pacientes. Conclusão: Conclui-se que o eluato seja um exame com potencial de melhor acurácia, sobretudo na sensibilidade do teste em relação ao TAD isoladamente, uma vez que apenas um terço dos pacientes com icterícia por incompatibilidade ABO foi identificada por esse exame.