Revista Brasileira de Cancerologia (Jun 2023)
Incorporação tecnológica no controle do câncer
Abstract
A incorporação tecnológica é etapa integrante do processo interativo da pesquisa e das inovações de bens e serviços1. Nessa perspectiva, ela possui características de inovação por trazer em seu escopo potenciais mudanças que podem gerar novos produtos, processos e métodos, convertendo-se em benefícios sanitários, sociais e econômicos para a sociedade em geral, como reduções de custos no tratamento de doenças, aumento de produtividade e competitividade nas empresas e, sobretudo, melhorias na qualidade de produtos e serviços que são ofertados. É importante lembrar que o processo de incorporação de novas tecnologias nos mais diversos cenários envolve o aperfeiçoamento de estruturas gerenciais e operacionais, rotinas e procedimentos técnicos, dentre outros. Dessa forma, além do investimento financeiro, que a maior parte das vezes é alto, o sucesso da incorporação/implementação de uma nova tecnologia no ambiente de produção de serviços de saúde ou empresarial depende primordialmente da capacidade de aprendizagem, desenvolvimento de novos conhecimentos, habilidades e atitudes dos indivíduos e setores que participam de forma direta ou indireta, isso requer uma abordagem de gestão da inovação voltada para o envolvimento de todos, com uma combinação criativa de diferentes disciplinas e perspectivas, elementos-chave influenciadores desse processo2. As neoplasias são ameaças significativas à saúde e ao desenvolvimento global, com impacto ainda maior para os países de baixa e média renda. Em 2019, foram aproximadamente 23,6 milhões de novos casos e 10 milhões de mortes por câncer em todo o mundo, o que representa um alarmante aumento de 26,3% na incidência e um aumento de 20,9% na mortalidade em comparação ao ano de 20103. A ciência importa. A pesquisa clínica em câncer importa. Com elas nos preparamos e trazemos novas incorporações ao cuidado oncológico. Detectar o câncer de maneira mais precoce e precisa é algo mandatório e para isso a tecnologia é fundamental, assim como é essencial no tratamento dos tumores, dos estadios iniciais aos mais avançados. A tecnologia trouxe a digitalização da medicina, os métodos de imagem e de diagnóstico mais sensíveis, a melhoria nos procedimentos de rastreamento, as novas técnicas cirúrgicas e de radioterapia. No campo do tratamento sistêmico vieram a oncologia de precisão (que em muitas condições aumenta a expectativa de vida e também as taxas de cura com planos personalizados de tratamento para os pacientes com câncer), as diversas novas terapias sistêmicas e até as edições no genoma, mais recentemente. A compreensão aprimorada das diferentes neoplasias, de suas alterações moleculares, da heterogeneidade tumoral e da relação do câncer com o microambiente em que está instalado, tem acontecido em velocidade e escala sem precedentes O desenvolvimento de pesquisas e de incorporações de novas tecnologias de base química, biotecnológica, eletrônica e mecânica para o controle do câncer nas redes pública e privada do país representa oportunidade para expansão do acesso aos bens e serviços de saúde à toda população, e de outro lado, fortalece as articulações entre os setores de saúde, indústria e economia4,5. Além do desenvolvimento, o grande desafio do momento é como incorporar as novas tecnologias que rotineiramente tem alto custo, à prática diária dos profissionais de saúde envolvidos no cuidado ao câncer, dada a complexidade e as iniquidades do sistema de saúde brasileiro, os recursos financeiros limitados e as inúmeras necessidades no campo da saúde, não só no controle e cuidado do câncer. Isso implica em superar os obstáculos e limites tecnológicos no setor público com mais investimentos na base produtiva industrial de inovações em saúde e incentivos à qualificação profissional para atuar em pesquisa básica e clínica no campo da oncologia.