Psicologia & Sociedade (Apr 2008)

Toda criança tem família: criança em situação de rua também Every child has family: a child in street situation too

  • Simone dos Santos Paludo,
  • Silvia Helena Koller

DOI
https://doi.org/10.1590/S0102-71822008000100005
Journal volume & issue
Vol. 20, no. 1
pp. 42 – 52

Abstract

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O presente estudo buscou descrever as características das famílias dos jovens que vivem em situação de rua a partir das percepções desses. Entrevistas semi-estruturadas qualitativas foram aplicadas individualmente com 17 jovens, com idades entre 11 e 16 anos (M=14, 05; DP=1,24), de ambos os sexos. As entrevistas permitem a compreensão da dinâmica dos fatores de risco que facilitam a ida dos jovens para a vida na rua. A existência de crianças na rua não implica a inexistência da família. Todos os participantes possuíam vínculos com suas famílias, mesmo que frágeis. Apenas cinco participantes voltavam para suas casas todos os dias. Uma variedade de configurações familiares foi descrita pelos jovens. Famílias reconstituídas foram apontadas por 41% dos participantes e famílias monoparentais, chefiadas por mulheres, por 35%. Identificou-se que a mulher cuidadora tem grande importância dentro da estrutura familiar desta população. Contrastando essa realidade, 58% dos entrevistados afirmam não conhecer o pai biológico. O número de irmãos que possuem nas suas casas varia entre um e 12 (M=5, 69; DP=3,07). A maioria dos pais não possui atividade laboral, ou trabalha em atividades informais. Para ajudar no sustento da família, muitos jovens iniciam o trabalho nas ruas. A violência, a pobreza, a adversidade, os problemas sociais, afetivos e econômicos parecem ter um importante papel na dinâmica e na configuração das famílias dos jovens em situação de rua. É necessário oferecer oportunidades para promover a resiliência dessas famílias.The study aims to describe the family characteristics of street situation youths from the perception of these youngsters. Individual and qualitative semi-structured interviews with seventeen youths, aged between 11 and 16 years (M=14,05; DP=1,24), of both sexes, were conducted. It was an opportunity for understanding the dynamic interplay of risk factors that move youngsters to street life. First, the fact of being on the street does not imply the absence of a family. Children and adolescents enrolled in the study had ties with their families, even when they perceive it as a very fragile one. Only five participants would go back home every day. The participants described a variety of family configurations. Remarriage was pointed out by 41% and 35% mentioned a monoparental family configuration, led by a woman. Women who take care of the household are of great importance in this population's family structure. In contrast, 58% did not know who their fathers are. The number of siblings varied between one and 12 (M=5,69; DP=3,07). The majority of parents were unemployed or involved in informal labor. In order to supplement the family income many children start to work on the streets. Violence, poverty, adversity, associated with social, affective, and economical problems seems to play an important and dynamic role in shaping families characteristics of street youths. It is necessary to offer opportunities to promote resilience for these families. Women had an essential role in family care, and may be a powerful link for development.

Keywords