Revista de Estudos da Linguagem (Jan 2020)

Reflexões sobre a linguística galileana de Noam Chomsky / Reflexions on Noam Chomsky’s Galilean Linguistics

  • Gustavo Augusto Fonseca Silva

DOI
https://doi.org/10.17851/2237-2083.28.1.93-158
Journal volume & issue
Vol. 28, no. 1
pp. 93 – 158

Abstract

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Resumo: O pressuposto metafísico de que a natureza é perfeita tem sido um dos alicerces da física moderna desde o século 17. Devido ao sucesso dessa disciplina, pesquisadores de outros campos do saber seguiram os seus princípios, inclusive a ideia de que a natureza é perfeita. Um caso particularmente interessante dessa transposição epistemológica se deu no século 20 com a gramática gerativa de Noam Chomsky, sobretudo em seu Programa Minimalista. Nele, Chomsky leva às últimas consequências o que chamou de “intuição galileana de que ‘a natureza é perfeita’”, propondo que a linguagem também é perfeita. Dado, no entanto, que igualmente se assume no gerativismo que a linguagem é um sistema biológico, a conjectura de que ela seja perfeita resulta na aposta altamente improvável de que ela seja única do ponto de vista biológico. Isso porque, sendo o resultado de acidentes evolutivos, os sistemas biológicos são caracteristicamente imperfeitos. Tendo em vista essa situação quase paradoxal a que se chegou no minimalismo chomskiano, discute-se neste artigo até que ponto se deve emular a física em outras áreas do conhecimento, com especial atenção à biologia e às ciências cognitivas – entre as quais se inclui a linguística. Como resultado dessa investigação, questiona-se neste trabalho o próprio pressuposto metafísico de que a natureza é perfeita, em consonância com as ideias de teóricos contemporâneos como o físico Marcelo Gleiser. Palavras-chave: Filosofia da linguística; filosofia da física; Galileu Galilei; Noam Chomsky; Programa Minimalista; arquitetura paralela de Ray Jackendoff. Abstract: The metaphysical assumption that nature is perfect has been groundwork for modern physics since the seventeenth century. Due to the success of that discipline, researchers from other fields of study followed its principles, including the idea of nature being perfect. Noam Chomsky’s Generative Grammar was a particularly interesting case of such epistemological transposition, which took place in the twentieth century, mainly in his Minimalist Program. In his work, while taking to ultimate levels what he dubbed “the Galilean intuition that ‘nature is perfect’”, Chomsky proposes language as well is perfect. However, given that in Generativism language is also seen as a biological system, conjecture on its perfection results in a highly unlike assertion that it is unique from a biological point of view, because biological systems are characteristically imperfect since they are results of evolutionary accidents. Built on such almost paradoxical situation reached in Chomsky’s minimalism, this article discusses the limits to emulating physics in other fields of study, more specifically in biology and cognitive sciences, among which stands linguistics. As a result of this investigation, this work questions the very metaphysical assumption that nature is perfect, along with ideas from contemporary thinkers such as physicist Marcelo Gleiser. Keywords: Philosophy of Linguistics; Philosophy of Physics; Galileo Galilei; Noam Chomsky; Minimalist Program; Ray Jackendoff’s parallel architecture.

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