Revista Interdisciplinar em Cultura e Sociedade (Jan 2019)
O campo e a educação: caminhos e descaminhos das políticas educacionais brasileiras
Abstract
Educação do Campo é uma expressão que só recentemente foi incluída no vocabulário da educação brasileira e na letra das leis relativas à educação nacional. A educação “no” campo, por outro lado, é tão antiga quanto à própria manifestação do fenômeno da educação formal em nosso país. O processo educativo ao qual se refere, hoje, a expressão Educação do Campo, se constituiu em oposição à chamada Educação Rural pensada para o (e praticada no) campo brasileiro ao longo do tempo. Embora, a sociedade brasileira tenha se desenvolvido fundamentalmente no e a partir do campo a constituição do processo educativo formal em nosso país subalternizou os sujeitos do campo, as sociabilidades do campo e o modo de vida campesino ao mesmo tempo em que hipervalorizou a urbanidade (que muitas vezes foi usada como sinônimo da civilidade). Esta situação/condição nutriu e tem nutrido discussões em busca da criação e do fortalecimento do movimento por uma Educação do Campo. Os sinais da organização de grupos da sociedade em torno das questões da Educação do Campo começam a ser notados mais efetivamente na década de 1990 quando os movimentos sociais do campo, apoiados na Constituição de 1988 que institui a educação como “um direito de todos”, trazem para os fóruns de discussão a necessidade de se constituir espaços que reflitam e valorizem os saberes e sociabilidades dos povos do campo no Brasil, destacando o direito ao respeito e à adequação da educação às singularidades culturais e regionais. Em nossa investigação nos indagamos sobre como têm se configurado ou (re)constituído as narrativas e práticas identitárias associadas à expressão Educação do Campo? A quais sujeitos e espaços se referem este projeto de educação? Nossa discussão se espraiará como em um a ensaio teórico, sem muita restrição bibliografia ou terminológica ou de categorias analíticas. Com um tema proposto de antemão – o diálogo entre a educação e o Campo brasileiros - nos permitimos seguir o curso do nosso pensamento e sentimento que tem por base nossa vivência social e acadêmica. O estudo nos permitiu dizer que na constituição do nosso sistema de educação formal foram sendo, ao longo do tempo, apagados dos pressupostos teóricos, da metodologia e da finalidade/objetivo da educação as referências relativas aos sujeitos e a vida do/no campo. É importante ressaltar, no entanto, que houve muita resistência a esse processo. Por exemplo, a criação dos sindicatos rurais (1934), da ASSESOAR (1966), das Casas Familiares Rurais e Escolas Famílias Agrícolas (1981), do MST (1984), etc. Essa resistência se nutre, sobretudo, do fato de a dinâmica da vida campestre ter influenciado e inspirado profundamente, ao longo de toda a história de nosso país, a constituição das nossas identidades e diferenças. Ela marcou fortemente nossa literatura, nossa música, nossa língua, nossa religião, nossa arte, nosso imaginário e nossa vida prática.