Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO EM DOADORES DE SANGUE SOROPOSITIVOS PARA DOENÇA DE CHAGAS
Abstract
Objetivos: Analisar o perfil epidemiológico e os resultados dos testes de triagem e confirmatórios para doença de Chagas em doadores de sangue. Material e métodos: Estudo retrospectivo de 2012 à 2022 das doações com resultado reagente ou indeterminado para doença de Chagas no Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo/RS. A triagem foi realizada na metodologia de ELISA e Quimioluminescência e todos os doadores com sorologia positiva foram convocados para recoleta. As amostras que permaneceram positivas foram encaminhadas para realização de testes confirmatórios por Imunofluorescência Indireta (IFI) IgG/IgM em laboratório externo. Resultados: Das 148.378 doações, 206 (0,14%) apresentaram resultado reagente ou indeterminado para doença de Chagas. Destes 112 (54,4%) do sexo masculino; 134 (65,0%) com 30 anos ou mais; 87 (42,2%) com ensino médio, 76 (36,9%) fundamental e 43 (20,9%) superior; 103 (50,0%) solteiros/viúvos, 92 (44,7%) casados e 11 (5,3%) divorciados/separados. Na primeira amostra 106 doadores (51,5%) apresentaram resultado reagente e 100 (48,5%) indeterminado. Dos 206 doadores com resultado reagente na primeira amostra, 150 (72,8%) retornaram para coleta de segunda amostra, onde 93 (62,0%) confirmaram resultado reagente/indeterminado e foram encaminhados para exame confirmatório sendo identificado por IFI dois reagentes (2,2%) para IgM, um indeterminado (1,1%) para IgM e 18 (19,3%) reagentes para IgG e 72 (77,4%). Ocorreu associação significativa entre faixa etária e falso positivo para soropositividade da doença de Chagas (χ2 = 5,046p p = 0,025). Indivíduos com menos de 30 anos apresentaram maior risco de falso positivo (OR = 2,556; IC95% = [1,109; 5,887]). Discussão: A doença de Chagas é apontada pela Organização Mundial da Saúde como uma das doenças tropicais mais negligenciadas no mundo (Ministério da Saúde, 2021) e o estado do Rio Grande do Sul é considerado endêmico para a doença (BEDIN et al., 2021). Costa et al. (2020), mostrou prevalência de 0,33% em áreas endêmicas no norte do Brasil, enquanto Bianchi et al. (2022), encontrou prevalência de 0,27% para doença de Chagas no sul do Brasil, ambas superiores à encontrada neste estudo (0,14%) que está acima do citado no Hemoprod (2020), para a região Sul (0,06%). Lopes et al. (2015) e Cogo et al. (2014), encontraram correlação positiva entre aumento da idade e soropositividade para Chagas, similar ao encontrado neste estudo. A alta incidência de falso positivos (77,3%) em comparação com teste confirmatório, é atribuída à sensibilidade dos testes, fato também citado por Costa et al. (2020). Observou-se maior prevalência em homens e menos escolarizados, indicando necessidade de campanhas educativas. Conclusão: A taxa de positividade para chagas encontrado em nosso estudo é semelhante à região. Cabe ressaltar a quantidade de falsos positivos que está realcionado à maior sensibilidade dos testes realizados nos serviços de hemoterapia, com o objetivo de garantir a segurança transfusional. O retorno dos indivíduos para exames confirmatórios é de grande importância para definir tratamento ou, em casos negativos, voltar a ser doador de sangue.