ArtCultura (Dec 2019)

Imaginando uma outra história da resistência negra: entrevista com Marcelo D’Salete

  • Ivan Lima Gomes

DOI
https://doi.org/10.14393/artc-v21-n39-2019-52030
Journal volume & issue
Vol. 21, no. 39
pp. 117 – 124

Abstract

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Marcelo D’Salete (São Paulo, 1979) é quadrinista, ilustrador e professor , desde 2011, de Artes Visuais na Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP. Publicou seu primeiro trabalho, Noite luz, pela Via Lettera, em 2008. Ao lado de Encruzilhada (Leya, 2011; Veneta, 2016), tais obras tratam dos desafios de se viver na cidade de São Paulo a partir de temas como desemprego, juventude negra e preconceito. Em Cumbe (Veneta, 2014), manifesta-se de forma mais explícita o interesse pela história da escravidão negra na América Portuguesa. O tema merecerá tratamento mais denso em Angola Janga (Veneta, 2017), que consolida o nome de Marcelo D’Salete na história das histórias em quadrinhos (HQs) brasileira. D’Salete situa a temática racial em primeiro plano, assumindo a desigualdade racial brasileira como mote para a elaboração de narrativas dedicadas a uma complexa reflexão a respeito da condição do negro no Brasil. Além disso, a questão racial lhe possibilita desenvolver uma estética absolutamente autoral. Desde o ponto de vista narrativo, suas obras trazem uma miríade de personagens cujos rostos e ações dão concretude aos debates por ele sugeridos, ao incorporarem os desafios, resistências e dilemas históricos vividos pela população negra e sentidos na pele. Tal ênfase nas trajetórias de tantos personagens que vêm e vão e se entrecruzam ao longo das páginas das HQs sinaliza para uma narrativa que, a princípio descontínua e marcada por algo próximo àquilo que historiadores classificariam de micro-história, percebe certa integração entre essas experiências a partir da condição racial que atravessa suas histórias e trajetórias pessoais. Como resultado, D’Salete constrói uma obra repleta de simbologias, explorando o contraste entre o claro e o escuro e aliando um profundo apuro estético às questões políticas do nosso tempo.