Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DIAGNÓSTICO PRECOCE DE CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS DE CANAL ANAL EM PACIENTE PÓS-TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

  • AMF Andrade,
  • GA Moreira,
  • G Steffenello,
  • EA Beteille,
  • AOM Wagner,
  • JADM Gonzaga,
  • MR Oliveira,
  • BV Dias,
  • LMM Figueiredo,
  • GB Justino

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S302 – S303

Abstract

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Introdução: O transplante de medula óssea (TMO) representa uma opção no tratamento de neoplasias hematológicas e distúrbios hematopoiéticos. Embora o TMO possa proporcionar uma sobrevida a longo prazo, há um risco aumentado de desenvolvimento de câncer secundário de 2-6% em 10 anos após TMO. Diante deste cenário, relatamos o diagnóstico de carcinoma de células escamosas de canal anal, em paciente com LMA pós transplante alogênico de medula óssea. Relato de caso: Mulher, 45 anos, diagnóstico de LMA secundária a mielodisplasia em outubro de 2022, submetida a indução com esquema 7+3, sendo refratária e reinduzida com CLAG-M seguido de TMO alogênico aparentado, condicionamento realizado com Fludarabina + Bussulfano em abril de 2023. Em avaliações pré transplante a paciente nao apresentava queixas ou alterações em região anal. No D42 pós alogênico, iniciou com hematoquezia de grande monta, sendo realizado toque retal e anuscopia, identificando a presença de lesão endurecida, não redutível, sem sangramento ativo, dolorosa ao toque, aspecto verrucoso e pequenas fissuras em sua superfície; na tomografia de abdome confirmou-se formação nodular na borda anal à direita, medindo cerca de 3,5 x 3,4 cm, associada à linfonodomegalia em cadeia ilíaca esquerda, com morfologia irregular e calfificações de permeio, medindo 2,6 x 2,3 x 2,0 cm. O anatomopatológico da lesão demonstrou lesão infiltrativa de canal anal, compatível com carcinoma de células escamosas. Paciente encaminhada a serviço de oncologia para seguimento e tratamento. Discussão: As complicações após o TMO, incluem doenças malignas, uma vez que os pacientes têm maior sobrevida livre da doença primária. Tumores sólidos têm se destacado como complicação maligna do TMO, surgindo vários anos após o procedimento, com uma média de cinco a dez anos. O caso da paciente relatada difere das estatísticas e chama atenção por ter ocorrido em um mês após o transplante, deixando dúvida se existia uma lesão indolente não identificada previamente ao transplante ou se a imunossupressão secundária aos esquemas quimioterápicos podem acelerar o processo oncogênico. Estudos têm demonstrado que ao longo do acompanhamento pós-TMO, o risco de desenvolver malignidades hematológicas diminui, enquanto que para tumores sólidos aumenta progressivamente. Existem evidências de que a patogênese é influenciada por múltiplos processos, indicando que o surgimento e disseminação do tumor podem ser resultados de falhas do sistema imunológico em controlar as células neoplásicas, bem como outros fatores relevantes. É amplamente reconhecido que o sistema imunológico desempenha um papel crucial em várias interações entre o tumor e o hospedeiro. Penn I., sustentou que “qualquer forma de imunossupressão, de suficiente duração e intensidade, levará ao desenvolvimento de certas formas de câncer”. Conclusão: O TMO, apesar de ser uma estratégia terapêutica de ampla importância na abordagem clínica da leucemia mieloide aguda, aumenta o risco de neoplasias secundárias, devendo, assim, haver um acompanhamento adequado e um alto índice de suspeição diante de lesões características.