Revista Brasileira de Psicodrama (Jan 2020)
Um olhar sociopsicodramático sobre as concepções de beleza em famílias negras
Abstract
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa sobre as concepções de beleza que integram a identidade de duas famílias negras mineiras: uma quilombola (matriarcal) e uma irmandade católica (patriarcal). Partindo do pressuposto que a concepção de beleza se relaciona com a identidade coletiva, foram investigados os aspectos históricos, culturais e de identidade social e familiar que influenciavam as concepções de beleza, com fundamentação nos conceitos do Psicodrama e nas intervenções etnodramáticas realizadas por J. L. Moreno, assim como em estudos filosóficos e culturais-feministas sobre a beleza e a corporeidade. Foi realizada uma pesquisa-ação através de entrevistas, observação participante e intervenções sociodramáticas – o etnodrama – com ambas as famílias. Os resultados revelaram aspectos comuns – padrões éticos de dignidade nas relações interpessoais – e diferenciados nos dois tipos de família. A família de irmandade católica, centrada na autoridade patriarcal, enfatizou a "beleza interior" e os aspectos relacionais como harmonia, união, aceitação e paciência nas relações intrafamiliares. Na família quilombola, centrada na autoridade matriarcal, a beleza se "exteriorizou" na cor da pele e no aprendizado das mulheres em se fazerem e se sentirem bonitas, alicerçado na força dos cuidados e do amor da matriarca. Esta pesquisa, ao retomar análises morenianas do problema étnico-racial, pode contribuir para estudos antropológicos em Psicodrama.