Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DOAÇÃO MATERNA DE SANGUE RARO PARA EXSANGUINEOTRANSFUSÃO EM RECEM NASCIDO COM DOENÇA HEMOLÍTICA

  • BB Arnold,
  • MT Souza,
  • LP Menezes,
  • BB Cal,
  • AB Castro,
  • CL Miranda,
  • P Bonichini-Junior,
  • TSP Marcondes,
  • LL Almeida,
  • PC Garcia-Bonichini

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S755 – S756

Abstract

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Introdução: Doença Hemolítica do Feto e do Recém Nascido (DHFRN) ocorre por aloimunização materna após exposição a antígeno eritrocitário incompatível e denota alta morbimortalidade fetal. Causa hemólise, anemia, hidropisia e morte do feto; ao recém-nascido (RN), hiperbilirrubinemia que pode levar a condição cerebral grave. Objetivo: relatar caso de sangue materno raro, polialoimunizado, necessitando de doação da mãe para Exsanguinotransfusão (EXT) no RN. Relato de caso: Gestante, 29 anos, sem comorbidades prévias, grupo sanguíneo A RhD negativo. Antecedentes obstétricos incluíam três gestações prévias de partos naturais, diferentes pais: (2011) 34 semanas, com isoimunização Rh, necessidade de EXT e sequela auditiva; (2013) 38 semanas, sem intercorrências; (2018) 37 semanas, natimorto por hidropisia fetal. Acompanhando em pré-natal de alto risco na sua quarta gestação. Realizada análise sorológica e molecular do sangue materno: Teste Direto da Antiglobulina (TAD) negativo no tubo e gel; pelos métodos Gel-Enzima (Papaína) e Gel-Liss e pela genotipagem eritrocitária foram identificados múltiplos aloanticorpos. Fenotipagem estendida deduzida do genótipo: D-C-E-c+e+ (rr); K-k+; Kp(a-b+); Js(a-b+); Jk(a-b+); Fy(a-b+); M-N+; S-s-; Uvar; Mia-; Di(a-b+); Do(a-b+); Hy+; Jo(a+); Co(a+b-); Yt(a+b-); Lu(a-b+). Concluída presença de anticorpos anti-D, anti-C, anti-JKa e um anti-U-like ou anti-U. Com 20 semanas gestacionais, havia sinais de anemia grave (polidrâmnio, ascite e aumento do pico da velocidade sistólica ao US morfológico), indicando Transfusão Intrauterina (TIU), feito 6 sessões ao total. Prevendo possibilidade de EXT ao nascimento e impossibilidade de sangue compatível para o RN na Hemorrede, optado pela doação de sangue materno e resolução da gestação em tempo hábil para seu uso. Parto induzido com 35 semanas, via vaginal, sem intercorrências. Nas primeiras horas de vida, RN recebeu transfusão de Concentrado de Hemácias (CH) da doação materna (20 mL/kg) e, no dia seguinte, realizado EXT com o restante do sangue materno doado. Seguiu-se 4 dias de fototerapia, normalizando Bilirrubina Indireta (BI). Discussão: Foca-se em prevenir e minimizar complicações da DHFRN. EXT é um dos principais recursos e busca corrigir a anemia, reduzir título dos anticorpos maternos, remover hemácias sensibilizadas e BI antes da sua difusão para os tecidos. O CH na EXT deve ter <5 dias, ser irradiado e compatível com o soro da mãe. Os anticorpos maternos no caso descrito apresentam importância clínica para reações hemolíticas. O fenótipo Uvar, causado pela variante P2, ocorre devido a uma alteração de sítio de splicing no gene GYPB, resulta na ausência do antígeno S e na expressão variante antígeno U na Glicoforma B, podendo desenvolver anticorpo anti-U-like ou anti-U. Doadores com esse fenótipo são raros e um desafio transfusional. A RDC nº 153 (2004) ressalta que em DHRN sem sangue compatível para a transfusão do RN, a mãe é autorizada a realizar a doação de sangue, se consentimento do hemoterapeuta e obstetra. Conclusão: Diagnóstico preciso da aloimunização e do provável desenvolvimento da DHFRN foram importantes no desfecho favorável do RN. A atuação hemoterápica precoce e a elucidação dos casos imuno-hematológicos usando ferramentas sorológicas e moleculares tornam-se essenciais para o sucesso e o manejo de doenças relacionadas à aloimunização na gestação.