Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

TRATAMENTO DE LEUCEMIA PROMIELOCÍTICA AGUDA EM PACIENTE DIALÍTICO: RELATO DE CASO

  • BB Cal,
  • BB Arnold,
  • ME Pelicer,
  • RO Coelho,
  • BC Sacchi,
  • LLASM Correia,
  • L Niero-Melo,
  • IA Campinas,
  • RD Gaiolla,
  • LO Cantadori

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S353

Abstract

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Introdução: O advento do ácido all-trans -retinoico (ATRA), indutor da diferenciação terminal das células leucêmicas e de sua apoptose, permitiu mudar o desfecho da Leucemia Promielocítica Aguda (LPA). Apesar de protocolos bem estabelecidos na literatura, no contexto da Doença Renal Crônica (DRC) ainda não há uma padronização. Buscamos relatar experiência terapêutica com paciente em hemodiálise e LPA no Sistema Único de Saúde (SUS). Relato: Homem, 41 anos, com DRC Estágio V de etiologia indeterminada, em hemodiálise desde 2016, Doença Arterial Coronariana e tratamento prévio de Paracoccidioidomicose, em uso de Sulfametoxazol + Trimetoprim profilático desde 2022. Após investigação de síndrome consumptiva e pancitopenia, é diagnosticado com LPA de baixo risco (PML-RARA detectado por RT-PCR). Iniciado ATRA 45 mg/m2/dia e indução de remissão associada à quimioterapia, conforme protocolo PETHEMA, com redução de 50% da dose de Daunorrubicina (36 mg/m2 em D2 – D4 – D6 – D8), realizada após as sessões de hemodiálise. Seguiu para consolidação, sem intercorrências: 1° ciclo com Daunorrubicina 12,5 mg/m2 D1-D4 (redução em 50% da dose); 2° ciclo com Mitoxantrona 10 mg/m2 D1-D3, sem necessidade de correção da dose; 3° ciclo com Daunorrubicina 30 mg/m2 D1. Durante essa fase apresentou atrasos entre os ciclos por neutropenia, sem complicações. Na manutenção, optada pela suspensão do Metotrexato, visto excreção renal da droga; realizado 6-Mercaptopurina a cada 48 horas e preservada dose do ATRA. Paciente atualmente em 3° ciclo da manutenção, sem toxicidades pelo tratamento, sem repercussões hematimétricas e em ótimo estado clínico, seguindo em hemodiálise crônica. Não houve recaída da Paracoccidioidomicose, sendo mantida a dose habitual da profilaxia. Reavaliações com PML-RARA indetectável no início da consolidação e da manutenção. Discussão e conclusão: Estima-se 3 a 6 milhões de brasileiros com DRC e mais de 100 mil em terapia dialítica, valores em contínua ascensão. A abordagem quimioterápica em pacientes dialíticos pode ser um desafio. Conforme relatado, foi necessária adaptação com redução de doses e omissão do Metotrexato (MTX), seguindo recomendações de bula, até o momento sem prejuízo ao paciente ou para o controle da doença. Estudos mostram que mesmo doses baixas de MTX em doentes renais crônicos podem levar a intoxicações graves, incluindo óbito, tornando arriscada a sua administração. O uso de ATRA na dose habitual se mostrou seguro, indo ao encontro da literatura. Além disso, demonstrou-se que os níveis séricos da droga não são afetados pelas sessões de diálise. Pela boa resposta com a combinação de ATRA + Trióxido de Arsênico (ATO), vale ressaltar que, quando disponível, mostrou-se seguro o seu uso na DRC. Apesar de poucos os estudos até o momento, modificações cuidadosas no tratamento padrão para LPA podem sustentar os mesmos índices de remissão em dialíticos observados na população geral, poupando-se toxicidades adicionais.