Educação e Pesquisa (Apr 2011)

Ampliação do ensino fundamental: a que demandas atende? A que regras obedece? A que racionalidades corresponde? Extension of fundamental education: which demands does it answer? Which rules does it follow? Which rationalities does it correspond to?

  • Fabiana de Amorim Marcello,
  • Maria Isabel Edelweiss Bujes

DOI
https://doi.org/10.1590/S1517-97022011000100004
Journal volume & issue
Vol. 37, no. 1
pp. 53 – 68

Abstract

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O objetivo deste texto é analisar, a partir de um conjunto de materiais oficiais e sob a luz de um referencial foucaultiano, como o ensino fundamental de 9 anos (e a nova organização curricular a ele implicada) torna-se efeito emblemático de um processo de "mudança de ênfases" (Saraiva, Veiga-Neto, 2009) acerca dos tipos de racionalidade que orientam as práticas sociais voltadas para a criança pequena. Para tanto, num primeiro momento, mostra-se de que maneiras outras "mudanças de ênfases" foram operadas em outros contextos nacionais. Ou seja, a partir dos trabalhos de Hultqvist (1998) e Baker (1998), descreve-se como se deram, na Suécia e nos Estados Unidos (respectivamente), profundas modificações no cuidado e atendimento à criança pré-escolar, bem como na proposta e mesmo na forma de organização da escola infantil. Em seguida, e tomando tais autores como base, a discussão analítica empreendida se dá a partir de três tópicos fundamentais: inicialmente, descrevemos a captura da infância em nome de algo que se denomina e se apresenta sob a égide da qualidade; em seguida (e daí decorrente), voltamos nosso olhar para a relação entre Estado e o conceito de criança-projeto (relação da qual parte uma fórmula criança-ideal - sociedade-ideal) e, por fim, tratamos do conceito de criança-capaz, na qualidade de objeto discursivo que emerge, a um só tempo, do espaço deixado pela lógica de resgate (Baker, 1998) e das tensões mutuamente constitutivas entre educação infantil e ensino fundamental.The objective of the present text is to analyze, based on a set of official documents and under a Foucauldian perspective, how the nine-year fundamental education (and the new curriculum organization implied by it) has become an emblematic effect of a process of "change in emphases" (Saraiva, Veiga-Neto, 2009) about the types of rationality guiding the social practices focused on small children. To this end, the article initially shows in what manners other "changes in emphases" have been operated in different national contexts. That is to say, based on works by Hultqvist (1998) and Baker (1998), the text describes how profound modifications have been carried out in Sweden and in the USA, respectively, concerning the care of, and service to, pre-school children, as well as in the proposal, and even in the form of organization, of early childhood schooling. Next, and taking those authors as its basis, the analytical discussion centers on three fundamental topics: firstly, we describe the seizure of childhood in the name of something that is denominated and presented under the aegis of quality; next (and following from it), we turn our attention to the relation between the State and the concept of project-child (a relation wherefrom springs a formula of ideal-child - ideal-society) and, lastly, we deal with the concept of capable-child as a discourse object that emerges simultaneously from the space left by the logic of rescue (Baker, 1998) and from the reciprocally constitutive tensions between early childhood education and fundamental education.

Keywords