Revista Portuguesa de Pneumologia (Mar 2004)

Experiência preliminar com um novo método de biópsia aspirativa guiada por ecografia endoscópica transbrônquica no diagnóstico de lesões mediastínicas e hilares

  • M. Krasnik,
  • P. Vilmann,
  • S.S. Larsen,
  • G.K. Jacobsen

Journal volume & issue
Vol. 10, no. 2
pp. 173 – 175

Abstract

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RESUMO: O correcto estadiamento do cancro do pulmão é fundamental, não só na determinação do prognóstico mas também na orientação terapêutica.A avaliação da extensão tumoral ao mediastino, por invasão directa ou metastática ganglionar, é um dos passos deste estadiamento. A TAC torácica é falível na detecção de metástases ganglionares, sendo o exame anatomopatológico mais fidedigno. Das várias técnicas de punção e biópsia, o método transbrônquico tornou-se uma rotina em diversos centros, sendo contudo a sua sensibilidade variável (técnica cega).Os autores descrevem um novo método de diagnóstico de lesões sólidas, incluindo gânglios mediastínicos e hilares através de ecografia endoscópica transbrônquica com biópsia aspirativa guiada em tempo real.Onze doentes com idade média de 58 anos foram submetidos a esta técnica: 3 com o diagnóstico de cancro do pulmão e suspeita de metástases ganglionares mediastínicas; 4 com suspeita de recorrência de tumor com metástases ganglionares; 3 com metástases ganglionares mediastínicas e hilares de etiologia desconhecida e um com suspeita de metastização ganglionar de cancro da mama. Todos os doentes tinham previamente efectuado broncofibroscopia que foi inconclusiva.O broncofibroscópio (BFC) ecográfico utilizado foi um protótipo criado pela Olympus, com uma sonda endoscópica na extremidade distal e com um grau de penetração em profundidade de 5 cm e um ângulo de varredura de 50º. Os doentes realizaram o exame sob anestesia geral, com introdução do BFC através de um tubo orotraqueal.A endoscopia foi efectuada em contacto directo com a parede brônquica e, ao localizar a lesão, a agulha de aspiração era introduzida através do canal de trabalho com visualização endoscópica directa da inserção e da biópsia.Quize lesões com dimensões de 7 a 80 mm foram puncionadas, sem registo de complicações, identificandose células malignas em 13 e células benignas em 2 lesões. Com base nestes achados, 8 doentes foram submetidos a quimioterapia, 1 submetido a pneumectomia, 1 a mastectomia e 1 a toracotomia exploradora que revelou carcinoma do esófago inoperável.O novo protótipo de BFC utilizado, além de manter um melhor estadiamento T e N do tumor, consegue em simultâneo realizar endoscopia e biópsia ou punção aspirativa. Com esta técnica conseguiuse o diagnóstico em todos os casos, sempre com repercussão na opção terapêutica e sem necessidade de recorrer a exames mais invasivos. O objectivo deste estudo foi exactamente verificar se este método é exequível, o que foi cumprido, tendo como futura intenção realizálo com anestesia local, para o diagnóstico de lesões sólidas adjacentes aos brônquios e traqueia e estadiamento ganglionar. Os autores referem a necessidade de uma experiência mais alargada e de estudos comparativos com a punção aspirativa transbrônquica convencional e a mediastinoscopia. COMENTÁRIO: A TAC torácica detecta algumas situações que afastam a hipótese de cirurgia curativa no cancro do pulmão, nomeadamente a invasão da artéria pulmonar ou da parede do ventrículo esquerdo, mas não é muito sensível na detecção de pequenas metástases ganglionares que podem tornar o doente inóperavel. A tomografia emissora de positrões (PET) é mais sensível na detecção de metástases, contudo também possui limitações, apresentando 25% de falsos positivos a nível ganglionar mediastínico e 31% nas lesões à distância. A necessidade de obtenção de tecido ganglionar é pois relevante para o diagnóstico, estadiamento e decisão terapêutica.O diagnóstico e estadiamento do cancro do pulmão pode ser difícil de obter por broncofibroscopia. A mediastinoscopia é o exame mais utilizado na obtenção de tecido ganglionar do mediastino, sendo porém um exame invasivo e não isento de riscos. Deste modo, um exame minimamente invasivo na obtenção de biópsias, como a aspiração com agulha transbrônquica (TBNA), tem vindo a ganhar importância, particularmente quando associada a ecografia endoscópica para localização mais precisa das lesões. A TBNA em conjugação com o escovado endobrônquico, o lavado e as biópsias por fórceps, aumenta significativamente o diagnóstico do tumor. A endoscopia endobrônquica só nos últimos anos tem despertado o interesse como meio de localização de lesões sólidas adjacentes à árvore brônquica e gânglios mediastínicos e hilares.Apesar destas vantagens, da sensibilidade e do baixo número de complicações, a TBNA ainda é uma técnica pouco utilizada. Por exemplo, nos Estados Unidos apenas 11,8% dos broncologistas a utilizam no diagnóstico de lesões malignas, sendo portanto necessário um maior investimento e treino nesta área. Este estudo, no fundo, vem reforçar os bons resultados obtidos através da biópsia transbrônquica, especialmente se guiada por ecografia endoscópica, revelando a experiência com um novo protótipo de broncofibroscópio que acopla ecografia e permite visualizar ao vivo as biópsias, não existindo para já nenhum aparelho deste tipo disponível comercialmente. Palavras chave: ecografia endoscópica transbrônquica, biópsia transbrônquica guiada