Brazilian Journal of Psychiatry (Sep 2004)

O eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, a função dos receptores de glicocorticóides e sua importância na depressão The Hypothalamic Pituitary Adrenal axis, Glucocorticoid receptor function and relevance to depression

  • Mario F Juruena,
  • Anthony J Cleare,
  • Carmine M Pariante

DOI
https://doi.org/10.1590/S1516-44462004000300009
Journal volume & issue
Vol. 26, no. 3
pp. 189 – 201

Abstract

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OBJETIVO: As mudanças no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) são características da depressão. Devido aos efeitos dos glicocorticóides serem mediados por receptores intracelulares, como os receptores de glicocorticóides (RGs), inúmeros estudos examinaram o número e/ou função dos RGs em pacientes com depressão. MÉTODOS: Os autores fazem uma revisão das evidências científicas dos estudos que têm consistentemente demonstrado que a função dos RGs está prejudicada na depressão maior, em conseqüência da redução da resposta do eixo HPA ao feedback negativo mediado pelos RGs e a um aumento na produção e secreção de HLC em várias regiões cerebrais, sugerindo que esses mecanismos estão envolvidos na etiologia da depressão e no tratamento antidepressivo. RESULTADOS: Esta revisão faz um resumo da literatura atual sobre RG na depressão e sobre o impacto dos antidepressivos nos RGs em estudos clínicos e pré-clínicos, e dá suporte ao conceito de que a sinalização deficiente dos RGs é parte fundamental na fisiopatogenia da depressão, na ausência de evidências claras de redução na expressão dos RGs. Embora os efeitos dos antidepressivos nos hormônios glicocorticóides e seus receptores sejam relevantes para a ação terapêutica dessas drogas, os mecanismos moleculares subjacentes a esses efeitos ainda não estão esclarecidos. Estudos indicam que os antidepressivos têm efeitos diretos nos RGs, levando a uma melhora da função e a um aumento da expressão dos RGs. Nós propomos que, em humanos, os antidepressivos podem inibir os transportadores de esteróides localizados na barreira hemato-liquórica e nos neurônios, como o complexo de resistência a múltiplas drogas glicoproteína-p ("multidrug resistance p-glycoprotein"), e podem aumentar o acesso do cortisol ao cérebro e o feedback negativo mediado por glicocorticoides no eixo HPA. CONCLUSÃO: O aumento da ação do cortisol no cérebro pode ser uma abordagem eficaz para maximizar os efeitos terapêuticos dos antidepressivos. Hipóteses referentes aos mecanismos destes receptores envolvem compostos não esteróides que regulam a função dos RGs via segundos mensageiros. A pesquisa nesta área trará novos entendimentos à fisiopatologia e ao tratamento dos transtornos afetivos, em especial na depressão.OBJECTIVES: Changes in the hypothalamic-pituitary-adrenocortical (HPA) system are characteristic of depression. Because the effects of glucocorticoids are mediated by intracellular receptors including, most notably, the glucocorticoid receptor (GR), several studies have examined the number and/or function of GRs in depressed patients. METHODS: Review scientific evidences have consistently demonstrated that GR function is impaired in major depression, resulting in reduced GR-mediated negative feedback on the HPA axis and increased production and secretion of CRF in various brain regions postulated to be involved in the causality of depression. RESULTS: This article summarizes the literature on GR in depression and on the impact of antidepressants on the GR in clinical and preclinical studies, and supports the concept that impaired GR signalling is a key mechanism in the pathogenesis of depression, in the absence of clear evidence of decreased GR expression. The data also indicate that antidepressants have direct effects on the GR, leading to enhanced GR function and increased GR expression. Although the effects of antidepressants on glucocorticoid hormones and their receptors are relevant for the therapeutic action of these drugs, the molecular mechanisms underlying these effects are unclear. We propose that antidepressants in humans could inhibit steroid transporters localised on the blood-brain barrier and in neurones, like the multidrug resistance p-glycoprotein, and thus increase the access of cortisol to the brain and the glucocorticoid-mediated negative feedback on the HPA axis. CONCLUSION: Enhanced cortisol action in the brain might prove to be a successful approach to maximise therapeutic antidepressant effects. Hypotheses regarding the mechanism of these receptor changes involve non-steroid compounds that regulate GR function via second messenger pathways. Research in this field will lead to new insights into the pathophysiology and treatment of affective disorders.

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