Revista Espaço Acadêmico (Nov 2020)
Abrir-se à hora:
Abstract
Este texto aspira a refletir sobre alguns aspectos marcantes na filosofia africana bantu-kongo referentes à temporalidade. Verifica-se, nesta, uma interpretação do sol (ntangu), enquanto fazedor de eventos no mundo — eis, portanto, a sua poética — dentro da leitura dos estágios ontológicos propostos pelo cosmograma kongo (dikenga dia kongo). Há uma presença significativa desse pensar — aqui intermediado, principalmente, pelo pensador congolês Bunseki Fu-Kiau — noutras matrizes que se construíram na diáspora negra (notadamente, no Brasil), conforme se pode verificar em realidades trazidas à tona por pensadoras como a nengwa Zulmira de Zumbá. Estabelecem-se, no texto, conexões entre tal pensamento africano, manifestações diaspóricas, como candomblés de linhagem congo-angola, e entre como, numa ideia bantu-kongo de verticalidade e horizontalidade, pessoas podem intervir no mundo, abrindo horas no espaço-tempo. É preciso distinguir a hora aberta pelo tempo-sol e a ação ético-inventiva de abrir a hora.