Mana (Apr 2009)
Política e economia na ação coletiva: uma crítica etnográfica às premissas dicotômicas
Abstract
Este artigo procura, distanciando-se dos modelos formais que têm servido de eixo para os estudos sobre ação coletiva e movimentos sociais, restituir a dimensão vivida do engajamento político. Com base em análise etnográfica centrada num conjunto de bairros da Grande Buenos Aires, explora os modos - múltiplos e heterogêneos - como as pessoas se envolvem nos chamados movimentos piqueteros, e indica que essas experiências ganham inteligibilidade ao serem inscritas numa trama mais ampla de relações e possibilidades de vida. A partir de uma perspectiva figuracional, o texto discute alguns pressupostos da literatura sobre organizações piqueteras, em particular, e protestos sociais, em geral; questiona a dicotomia entre razão material e razão político-moral com que se tem abordado a questão das motivações da ação coletiva; desconfia de uma oposição rígida entre Estado e movimentos sociais, apontando para o papel criador - e não só cooptador - das políticas estatais; e, finalmente, propõe sociologizar o lugar do "prazer de fazer" na origem e na continuidade do engajamento político.Distancing itself from the formal models that have served as an axis for studies of collective action and social movements, this article seeks to reinstate the lived dimension of political engagement. Basing itself on the ethnographic analysis of a set of neighbourhoods in Greater Buenos Aires, it explores the multiple and heterogeneous ways in which people become involved in the so-called movimentos piqueteros. It indicates that these experiences become intelligible through their inscription in a wider plot of relations and possibilities. Starting from a figurational perspective, the text discusses some of the assumptions of the literature on piquetero organization, in particular, and social movements more generally; it questions that dichotomy between material reason and politico-moral reason through which the question of the motivations of collective action have been addressed; it is mistrustful of a rigid opposition between the State and social movements, pointing to the creative - and not merely co-optive - character of state policies; and, finally, it proposes to sociologize the locus of the "the pleasure of doing" in the origin and continuity of political engagement.
Keywords