Revista Subjetividades (Nov 2020)
Psicanálise e uma Ontologia Política Identitária: Leitura sobre a Expressão “Cultura Negra”
Abstract
O presente artigo pretende apresentar algumas contribuições da psicanálise para pensar o contexto das minorias, especificamente o tema da cultura negra. O fio da política é apresentado a partir da discussão a respeito da exclusão no espaço social e a consequente segregação. Considerando as ambiguidades caracterizadas pelas relações de igualdade e diferença apresentadas em Hannah Arendt, discutimos como, nessa construção do reconhecimento da diferença em um campo igualitário, encontram-se também mecanismos de domínio, entre eles, o racismo. Em seguida, por meio da leitura foucaultiana, buscamos identificar os dispositivos de poder no tecido social no que se refere à luta das raças, sendo a ideia do corpo atravessado pelo contexto sócio-histórico e cultural um elemento que apresenta o racismo como mecanismo de segregação. Seguindo os passos da discussão sobre diferença e segregação, introduzimos o pensamento de Giorgio Agamben e a dimensão da vida nua enquanto elemento central na política moderna ocidental. Após essa articulação, que buscou abordar o racismo correlato à segregação, passamos à apresentação da construção da cultura negra no contexto brasileiro. Tomamos essas elaborações tanto em sua vertente que tenta recuperar as raízes da matriz africana, passando por aquelas estigmatizantes em relação a um referenciamento ao branco, quanto aquelas denegatórias, que buscam neutralizar as especificidades de tal movimento. Concluímos essas reflexões sugerindo que a questão da identidade negra brasileira deve ser orientada pelo movimento constante de significação e ressignificação. Nessa construção, as questões sobre a relação entre oprimidos e opressores entra em voga, o que nos levou a articular o pensamento de Ernesto Laclau. Por fim, retomamos em Freud e Lacan as construções a respeito da diferença e o mal-estar que produz o encontro do sujeito com a civilização.
Keywords