Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ANÁLISE DE SOBREVIDA DE PACIENTES COM MIELOMA MÚLTIPLO EM SERVIÇO DE REFERÊNCIA NO INTERIOR DA BAHIA
Abstract
Objetivo: Descrever a análise de sobrevida de pacientes tratados em um centro de referência em oncohematologia. Metodologia: Trata-se de uma coorte retrospectiva, no qual 40 prontuários foram selecionados aleatoriamente de um total de 438, na Unidade de Alta Complexidade de Atendimento em Oncologia (UNACON) em Feira de Santana-Bahia, entre 2018 e 2024. Os pacientes foram divididos em dois grupos, de acordo com o tipo e a quantidade de tratamentos utilizados: o grupo 1 fez até duas terapias farmacológicas e o grupo 2 três ou quatro. Sete pacientes transplantados foram excluídos da análise, a fim de evitar viés, já que o transplante se apresenta como outra modalidade de tratamento. Três pacientes que abandonaram o tratamento foram excluídos, totalizando ao fim 30 registros. Para comparação dos dados foi utilizado a análise de sobrevivência de Kaplan Meyer e a análise de long Rank para avaliação do p-valor. Resultados: Foram analisados 30 pacientes, 30% do sexo feminino e 70% do sexo masculino. A média de idade ao diagnóstico foi de 69,26 anos (46-91). Quando comparado o tempo de sobrevida do uso de duas ou menos terapias farmacológicas (n = 20) (tratamento 1) e aqueles que fizeram três ou quatro (n = 10) (tratamento 2), obteve-se uma média de sobrevivência de 1.661,3 dias no tratamento 1 e 1.308,1 dias do tratamento 2. A terapia mais utilizada entre os que fizeram o tratamento 1 foi a CYBORD (25%) e do tratamento 2 foi o CTD (33%). O p-valor foi de 0,672. Quando avaliado a idade no cálculo da regressão de Cox, o tratamento 2 apresentou 1,267 maior risco de morte quando comparado com o 1. Ao se observar a idade, o paciente mais velho tem 1,028 vezes maior risco de morrer. Discussão: O MM é uma neoplasia incurável, cujotratamento ainda é um desafio. Na comparação dos grupos, tratamento 2 mostrou uma sobrevida discretamente maior do que o 1. Embora a diferença não tenha alcançado significância estatística (p = 0,672), esses dados sugerem que regimes terapêuticos mais intensivos podem estar associados a uma tendência de maior sobrevida, alinhando-se com dados da literatura que destacam os benefícios de terapias contínuas. Estudos com tratamento contínuo têm demonstrado que essa abordagem, como exemplo o uso de lenalidomida ou terapias com bortezomibe, podem prolongar o controle da doença e melhorar a sobrevida livre de progressão. Isso destaca a importância de regimes terapêuticos mais eficazes, que buscam suprimir a evolução clonal e manter a doença sob controle. A ausência de significância estatística no estudo pode ser reflexo do pequeno tamanho amostral. A análise de regressão de Cox indicou que a idade avançada está associada a um risco aumentado de mortalidade, um achado corroborado por estudos que mostram que pacientes mais jovens respondem melhor a terapias intensivas e têm melhores desfechos. Conclusão: Estudos populacionais, ainda que retrospectivos, são desafiadores pela dificuldade de integrar dados que permitam uma análise real do cenário do tratamento no Brasil, principalmente a nível do Sistema Único de Saúde. Os resultados do estudo evidenciam a dificuldade na análise de dados de um centro de referência no interior da Bahia. É importante ressaltar a necessidade de obtenção deregistros de dados de centros de tratamento de MM, a fim de conhecer melhor a realidade brasileira.