Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
AVALIAÇÃO INICIAL DOS BENEFÍCIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM NOVO SERVIÇO DE TRANSPLANTE AUTÓLOGO DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS (TCTH) NO TRATAMENTO DE PACIENTES COM MIELOMA MÚLTIPLO EM HOSPITAL PÚBLICO TERCIÁRIO
Abstract
Introdução: O mieloma múltiplo (MM) é responsável por 10% das neoplasias hematológicas. O uso de apenas agentes alquilantes e corticosteróides foram por muito tempo as únicas opções para o seu tratamento. Nas últimas décadas, a terapia de altas doses, seguida de TCTH mostrou sobrevida livre de progressão (SLP) maior, sendo então instituída como terapia padrão após terapia inicial. O TCTH no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), em Porto Alegre/RS, começou a ser realizado em dezembro de 2021. Visto que o HNSC não possuía serviço de TCTH próprio, o estudo comparou os resultados dos pacientes que realizaram o TCTH em outros hospitais com os que o fizeram no HNSC, identificando o tempo de espera para realização do TCTH, tempo de enxertia, toxicidade inicial, complicações e resposta até cem dias pós-TCTH. Métodos: O estudo foi uma coorte retrospectiva, com alocação dos pacientes portadores de mieloma múltiplo do HNSC que fizeram o TCTH no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), na Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre (SC) e no HNSC, em 2017, 2018, 2019 e 2022. Foram analisadas as características clínicas: idade, sexo, tipo de mieloma, status performance (ECOG), e os desfechos: tempo entre diagnóstico e realização do TCTH, tempo para a enxertia, complicações presentes no pós-TCTH (neutropenia febril, internamento em UTI, colite neutropênica e mucosite) e respostas obtidas no D+100 pós TCTH. Os dados foram codificados e analisados pelo software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20. Resultados: 26 pacientes foram incluídos na amostra. 7 (26,9%) realizaram o TCTH no HCPA, 10 (38,5%) na SC e 9 (34,4%) no HNSC. 16 (61,5%) eram do sexo masculino. A média de idade foi 57,5 anos. 9 (34,6%) expressavam IgA, 6 (23,1%) expressavam cadeias leves lambda ou kappa, 5 (19,2%) expressavam IgG, 5 (19,2%) expressavam proteínas mistas (cadeias leves lambda ou kappa + IgG ou IgA) e 1 (3,8%) era não secretor. 18 tinham ECOG de 0 a 2 e os 8 restantes ECOG 3. O desfecho principal, tempo de espera do diagnóstico até o tratamento, mostra que o tempo de espera dos pacientes que realizaram o TCTH no serviço próprio (HNSC) foi menor e estatisticamente significativo (p 0,47) do que aqueles que foram encaminhados para realização em outros serviços. O tempo de enxertia dos que fizeram o TCTH no HNSC teve uma média de 10,3 dias, enquanto no HCPA foi de 14,7 dias e na SC foi de 13,5 dias. Discussão e conclusão: Os pacientes que realizaram TCTH no HNSC tiveram uma espera média de 10 meses, enquanto os outros tiveram uma espera média de 18 e 19 meses, respectivamente. Fato que mostra a importância de se ter um serviço de TCTH num hospital público terciário que é referência para o tratamento de doenças hematológicas na região, possibilitando um tratamento padrão-ouro, sem atrasos e com maior possibilidade de SLP. As complicações referidas no pós-TCTH imediato foram semelhantes entre os grupos, fato também esperado devido às particularidades inerentes ao regime de condicionamento utilizado. O estudo tem limitações, sendo a principal o tempo de acompanhamento dos pacientes incluídos, que só foi até cem dias após o transplante, não sendo possível avaliar o SLP desses pacientes a longo prazo.