Principia: An International Journal of Epistemology (Nov 2021)
Valores na ciência: devemos dar adeus à imparcialidade?
Abstract
Na primeira metade do século XX, os filósofos da ciência costumavam sustentar que a aceitação correta de teorias na ciência derivava de sua conformação a certas regras. Porém, a partir da virada historicista e prática na filosofia da ciência, a aceitação de teorias passou a ser analisada com base em valores, em vez de regras estabelecidas a priori. Neste artigo, analisarei quatro posições paradigmáticas sobre o papel dos valores na ciência. A primeira posição, articulada por Hugh Lacey, defende um ideal regulador de ‘imparcialidade’ na aceitação de teorias científicas como estabelecidas. As outras posições veiculam argumentos que parecem conflitar com esse ideal. Caracterizo-os como ‘argumento dos pontos cegos’, ‘argumento do risco indutivo’ e ‘argumento da aceitação baseada na confiança’. A partir dessa análise, defenderei duas teses principais. Minha primeira tese é de que o ideal de imparcialidade é compatível com os argumentos recém-mencionados. Minha segunda tese é de que a defesa da imparcialidade tem a vantagem de fornecer um suporte para a autoridade epistêmica do conhecimento científico adequadamente estabelecido. Seguindo Lacey, argumentarei que as teorias só podem ser aceitas como estabelecidas sob domínios específicos de fenômenos. Mas teorias também são aceitas com outros fins, por exemplo, quando são adotadas para desenvolver a pesquisa ou quando são endossadas para informar a legitimidade de uma ação. Em tais casos de aceitação de teorias, a imparcialidade não é possível nem desejável, o que exige o suporte de outros ideais.
Keywords