Acta Médica Portuguesa (Nov 2015)

Eritropoietina Sérica como Marcador Prognóstico em Síndrome Mielodisplásica

  • Emília Cortesão,
  • Rita Tenreiro,
  • Sofia Ramos,
  • Marta Pereira,
  • Paula César,
  • José P. Carda,
  • Marília Gomes,
  • Luís Rito,
  • Emília Magalhães,
  • Ana C. Gonçalves,
  • Nuno C. e Silva,
  • Catarina Geraldes,
  • Amélia Pereira,
  • Letícia Ribeiro,
  • José M. Nascimento Costa,
  • Ana B. Sarmento Ribeiro

DOI
https://doi.org/10.20344/amp.6518
Journal volume & issue
Vol. 28, no. 6

Abstract

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Introdução: A síndrome mielodisplásica é uma doença heterogénea caracterizada por displasia, medula hipercelular, citopenias e risco de evolução para leucemia aguda. Outros factores de prognóstico, nomeadamente, fibrose medular, elevação da enzima desidrogenase do lactato e β2-microglobulina têm sido descritos, contudo, a decisão terapêutica baseia-se no score do International Prognostic Scoring System. Material e Métodos: Este trabalho teve como objectivo analisar a relevância da eritropoietina sérica ao diagnóstico, em doentes com síndrome mielodisplásica de novo, avaliando o seu impacto na sobrevivência global e a sua implementação como factor de prognóstico. Recolhemos dados clínicos e laboratoriais de 102 doentes com síndrome mielodisplásica de novo diagnosticada entre outubro/2009 e março/2014. A análise de sobrevivência foi efectuada recorrendo à metodologia de Kaplan-Meier, de acordo com os valores de eritropoietina. Resultados: A amostra, de 102 doentes, apresenta uma mediana de idades de 74 anos e relação masculino/feminino igual a 0,8. Os doentes com o subtipo citopenia refratária com displasia unilinha apresentam, em média, valores de eritropoietina significativamente mais baixos, em oposição aos doentes com o subtipo 5q- que apresentam a média de eritropoietina sérica mais elevada (p < 0,05). Onze doentes evoluíram para leucemia aguda; estes têm, em média, eritropoietina sérica superior (p < 0,05). Adicionalmente, a eritropoietina sérica acima do limite superior da normalidade associa-se a menor sobrevivência (p = 0,0336). Após ajuste do modelo de regressão de Cox, o valor preditivo da eritropoietina para a sobrevivência global manteve-se (p < 0,001). Em análise multivariada, a eritropoietina sérica demonstrou ser um factor de prognóstico independente (p < 0,001). Discussão: A eritropoietina sérica é um factor preditivo de resposta à terapêutica com eritropoietina subcutânea, sendo que os doentes com síndrome mielodisplásica com valores mais elevados de eritropoietina apresentam uma pior resposta à administração de eritropoietina, mesmo com doses mais elevadas. A nossa amostra demonstra que a eritropoietina sérica apresenta também valor prognóstico, e em todos os subtipos de síndrome mielodisplásica. Além disso, isoladamente ou em associação com outros factores ou índices de prognóstico, poderá melhorar o valor prognóstico de índices como o International Prognostic Scoring System, uma vez que valores elevados de eritropoietina estão associados a progressão para leucemia aguda e, consequentemente, a menor sobrevivência. Conclusão: Os resultados sugerem que o aumento dos níveis séricos de eritropoietina ao diagnóstico pode constituir um factor de mau prognóstico em doentes com síndrome mielodisplásica, associando-se a maior risco de evolução para leucemia aguda e menor sobrevivência global.

Keywords