Revista Subjetividades (Oct 2007)

A poética dos neurônios em Freud

  • Eduardo Rodrigues Peyon,
  • Ana Maria Rudge

Journal volume & issue
Vol. 7, no. 2
pp. 501 – 526

Abstract

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No seu artigo Freud e a Cena da Escritura (1967), Derrida valoriza a Bahnung (Facilitação) freudiana como um conceito que indica uma possibilidade de ruptura com a metafísica clássica. Segundo Derrida (1967), Freud, ao afirmar que a memória e, conseqüentemente, o psiquismo é fruto das diferenças entre essas facilitações (Bahnungs) nos neurônios PSI, não estabelece uma origem pura e plena para o psíquico. Derrida afirma, ainda, que Freud buscou, em seu Projeto, dar conta do psiquismo através de um apelo ao princípio da diferença. Assim, a origem seria a différance que não é um conceito, nem uma essência, tampouco é a tradução de algum significado transcendental. Desta forma, não há uma origem definitiva do psiquismo que possa ser plenamente determinada, mas sim uma origem que já é transcrição dessas diferenças entre as facilitações e cujo significado está sempre sendo reconstituído no a posteriori (Nachträglichkeit). Por fim, é com a metáfora do Bloco Mágico (Wunderblock) que o modelo freudiano se conforma mais propriamente a uma escritura. No presente artigo, buscamos articular essa leitura derridiana de Freud com a poesia; esta aqui é entendida como criação diante da ignorância ou estranheza que a différance, a cada vez, faz emergir. A poesia seria, portanto, uma possibilidade de desdobramento da différance, seguindo as vias abertas pelas primeiras facilitações nos neurônios. A criação segue reenviando à própria origem, impedindo, assim, que se estabeleça uma oposição absoluta entre a origem e o originado e também um pleno presente em qualquer tempo, passado, presente ou futuro. Palavras-chave: facilitação (Bahnung), a posteriori (Nachträglichkeit), diferimento (Différance), poesia, bloco mágico.