Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
LINFOMA DE HODGKIN COM APRESENTAÇÃO ATÍPICA EM BEXIGA: RELATO DE CASO
Abstract
Introdução: O envolvimento extranodal dos linfomas normalmente é um evento que ocorre geralmente em associação com a doença disseminada, sendo mais comum no linfoma não-Hodgkin (LNH) do que no Linfoma de Hodgkin (LH), mais raro ainda quando este envolvimento é no trato genitourinário. Desta forma, o conhecimento desse padrão de disseminação do LH e suas possíveis formas de envolvimento extranodal, facilita o diagnóstico, o estadiamento e o planejamento do tratamento. Objetivo: Relatar caso de entidade atípica de LH manifestando-se em órgão extralinfático, com acometimento em bexiga. Materiais e métodos/Resultados: relato de caso. Caso clínico: Paciente, 39 anos, LH tipo esclerose nodular III-B, HIV negativo. Apresentava espessamento de bexiga ao diagnóstico, não biopsiada. Fez 1ª linha de tratamento com protocolo ABVD finalizado em julho/22. PET-CT após tratamento demonstrava remissão. Em janeiro/23 iniciou quadro de tontura, náuseas, oligúria e aumento de volume abdominal em hipogástrio. TC de reestadiamento evidenciou hidronefrose bilateral com bexiga espessada e irregular. Após tentativa sem sucesso de passagem de catéter duplo J, evoluiu para diálise por anúria e piora de função renal. Imunohistoquímica de biopsia de bexiga do dia 06/02/23 evidenciou moderado infiltrado leucocitário com presença de eosinófilos, células grandes de permeio positivas para CD30 e células positivas para PAX5 atenuadas. Marcação CD15 e CD45 inconclusivas, compatível com infiltração da bexiga por LH clássico. Liberada 2ª linha de tratamento com protocolo ICE e, após 2° ciclo, paciente evoluiu com melhora importante da função renal e retorno de débito urinário, sendo suspensa diálise. Em nova TC para reavaliação, foi visualizada redução significativa de espessamento da bexiga. Atualmente, aguarda transplante autólogo para seguimento do tratamento. Discussão: Existem poucos relatos de casos sobre o linfoma do trato urinário. Quando há acometimento em órgãos extranodais pelo LH, geralmente o envolvimento é associado ao HIV e acontece no sistema nervoso central, tecido musculoesquelético, pleura ou trato gastrointestinal, mas no caso exposto o acometimento foi na bexiga em paciente HIV negativo, o que é uma situação rara. O que poderia ter sido feito neste caso era a abordagem da bexiga no momento inicial do diagnóstico. Caso confirmada a presença do linfoma neste órgão, eventuais alterações evolutivas poderiam ser abordadas de forma mais precoce, evitando possivelmente uma recaída mais grave, como neste paciente que evoluiu para diálise. Conclusão: A apresentação extranodal na bexiga foi um cenário clínico incomum na história natural dessa doença, o que pode ser um desafio inesperado para diagnóstico e manejo. Portanto, devemos estar cientes dessas apresentações incomuns para que os quadros sejam investigados de forma correta e em tempo hábil a fim de identificar e evitar complicações secundárias, permitindo planos de terapias apropriadas a serem aplicadas.