Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (Aug 2012)

A AÇÃO DOCENTE COMO SUSTENTAÇÃO DA PRODUÇÃO DISCURSIVA DOS ESTUDANTES NA SALA DE AULA DE FÍSICA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

  • Erico Tadeu Fraga Freitas,
  • Orlando Gomes Aguiar

Journal volume & issue
Vol. 12, no. 1
pp. 9 – 36

Abstract

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Este trabalho pretende examinar, em detalhes, modos de intervenção e ação docente na EJA com o objetivo de engajar estudantes na produção de sentidos e, assim, favorecer o domínio e apropriação de conceitos científicos (WERTSCH, 1998). Acompanhamos o trabalho de um professor de física durante uma sequencia de ensino de Luz, Cores e Visão. Para a análise, selecionamos um episódio de ensino no qual professor e estudantes trabalham com o conceito de reflexão da luz e estabelecem a diferenciação entre reflexão especular e difusa. Para isso, nos valemos dos conceitos de compreensão responsiva de Bakhtin (1997), de abordagem comunicativa de Mortimer e Scott (2003), dos momentos de transição entre discurso dialógico e discurso autoritativo (MORTIMER; SCOTT, 2011), da distinção entre discurso explicativo e argumentativo (BRONCKART, 1999; VIEIRA; NASCIMENTO, 2009) e das relações dos estudantes frente ao discurso escolar (FONTANA, 1996). A análise nos permite evidenciar mudanças na abordagem comunicativa ao longo de episódio. Essas mudanças se revelam quando comparamos as intervenções do professor nas três partes do episódio, que correspondem às fases de exploração, organização e aplicação do conhecimento. O discurso é predominantemente interativo/dialógico na primeira parte, não interativo/de autoridade na segunda e interativo/de autoridade na terceira. As elaborações do professor na 2ª parte se apóiam na produção dos estudantes na 1ª parte e as soluções encontradas pelos estudantes ao problema proposto na 3ª parte mostram um processo de apropriação em curso. Notamos, além disso, que os cuidados de escuta, acolhimento e incentivo do professor resultam em efetivo protagonismo dos estudantes na aula e, consequentemente, uma relação de co-autoria no discurso da sala de aula e dos sentidos que vão sendo postos em circulação.