Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

INFLUÊNCIA DA CO-INFECÇÃO POR HIV NA APRESENTAÇÃO CLÍNICA E NOS DESFECHOS DE CASOS DE MENINGITE TUBERCULOSA NO BRASIL: UM ESTUDO OBSERVACIONAL RETROSPECTIVO A NÍVEL NACIONAL

  • Lucas Gábor Urmenyi,
  • Mariana Araújo Pereira,
  • Klauss Villalva Serra Junior,
  • João Vitor Porto Aragão,
  • Beatriz Barreto Duarte,
  • Isabella Bonifácio Brige Ferreira,
  • Rodrigo Carvalho de Menezes,
  • Elvis Oliveira Fonseca,
  • Artur Trancoso Lopo de Queiroz,
  • Bruno de Bezerril Andrade

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103184

Abstract

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Introdução: A meningite tuberculosa é a manifestação mais letal de tuberculose (TB) no mundo, ocorrendo majoritariamente em pessoas vivendo com o vírus da imunodeficiência humana (PVHIV). O Brasil é um dos 30 países com maior carga de TB-HIV do mundo. Contudo, poucos estudos caracterizam a meningite tuberculosa no país. Esse estudo teve como objetivo caracterizar as diferenças de apresentação clínica e avaliar a influência da co-infecção por HIV nos desfechos de meningite tuberculosa a nível nacional. Métodos: Utilizamos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de casos de meningite tuberculosa notificados entre 2007-2021. Foram selecionados casos confirmados, de indivíduos com mais de 18 anos, e que tinham status conhecido de infecção por HIV. Gestantes foram excluídas da população do estudo. Os desfechos avaliados foram alta ou óbito por meningite. Análises exploratórias e de associação foram realizadas para investigar a apresentação clínica e desfechos de acordo com o status de HIV. Um modelo de regressão logística binária (stepwise) foi utilizado para identificar as variáveis independentemente associadas aos desfechos de interesse. Resultados: Dentre os 1819 casos incluídos no estudo, 57% eram PVHIV. Os resultados demonstraram que PVHIV apresentaram uma maior taxa de diagnóstico prévio de tuberculose quando comparados àqueles sem HIV (58,2% vs. 36,5%, p < 0,001). Além disso, esse grupo apresentou menores frequências de sinais e sintomas como vômitos, rigidez de nuca, sinal de Kernig/Brudzinski e coma. O exame do líquor revelou que a contagem de leucócitos foi menor em PVHIV. Em contrapartida, foi identificado uma maior concentração de proteínas no líquor desses pacientes. Ao avaliar os desfechos, observamos que PVHIV apresentaram menor taxa de óbito por meningite tuberculosa (17,3% vs. 23,2%, p = 0,002) em relação ao grupo sem HIV. Usando um modelo de regressão logística binária, convulsões e rigidez de nuca foram independentemente associadas ao óbito (OR: 2,17 [95%IC: 1,42-3,32], p < 0.001, OR: 1,47 [95%IC: 1,04-2,07], p = 0,029, respectivamente). Entretanto, o status de HIV não se mostrou significante nesse modelo (OR: 0,73, [95%IC: 0,52-1,01], p = 0,06). Conclusão: Apesar da meningite tuberculosa se manifestar mais frequentemente em PVHIV, esses pacientes apresentam menor frequência de sintomas e menor taxa de óbito. Além disso, a infecção por HIV não é um fator determinante de desfecho na população deste estudo.

Keywords