Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
CÉLULAS LE E A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE MORFOLÓGICA DE MEDULA ÓSSEA EM PANCITOPENIAS: RELATO DE CASO
Abstract
A descrição inicial das Células LE ocorreu em 1948 durante a análise de mielogramas em pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), tornando-se um importante indicativo de especificidade para essa doença, desde aquela época. Estas células correspondem a leucócitos polimorfonucleares contendo um homogêneo corpúsculo de inclusão, que podem ser encontradas na medula óssea MO), sangue periférico (SP) e fluídos corporais (ex. líquido pericárdico). Por ser específico para o LES, a descrição das células LE foi considerada um dos critérios diagnósticos pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR) em 1971, e permaneceu como o critério mais específico por décadas, apesar da baixa sensibilidade (50-80%). No entanto, com a identificação dos autoanticorpos e a revisão dos critérios pelo ACR em 1982, esse método perdeu sua importância definidora de diagnóstico, tendo sido removido dos critérios estabelecidos em 1997. Embora o modelo atual de investigação para o LES tenha evoluído para análises laboratoriais mais refinadas somadas a critérios clínicos, apresentamos relato de caso observado em hospital universitário de nível terciário. No presente caso, por meio da análise morfológica da medula óssea (mielograma) devido à pancitopenia, foi possível definir, com grande grau de evidência, a patologia que acometia a paciente, agindo prontamente com as intervenções necessárias. Caso clínico: Paciente do sexo feminino, 71 anos, branca. Antecedentes pessoais: hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, doença renal crônica e osteoartrite nodal em mãos. Manifestações iniciais desde há 1 mês: inapetência, náuseas, vômitos, perda de peso significativa, astenia e mialgia difusa. Evoluiu com piora da função renal com uremia e necessidade de terapia renal substitutiva (hemodiálise inicialmente). Dados laboratoriais: proteinúria, anemia, plaquetopenia e linfopenia, o que motivaram a solicitação de avaliação hematológica. Para investigação de síndrome consumptiva com pancitopenia foi indicada avaliação da medula óssea (cito-histologia). À citologia o setor granulocítico revelou-se hipercelular, com maturação conservada, eosinofilia discreta e numerosas Células LE em neutrófilos e raras em eosinófilos, perfazendo mais de 10% da celularidade do setor. Diante da análise citológica, associada ao quadro clínico e ao relato de uso de Hidralazina há pelo menos um ano, foi feita a hipótese de Lúpus Induzido por Droga. Como complementariedade diagnóstica realizou-se coleta de auto-anticorpos e dosagem de complemento com os seguintes resultados: Fator Antinúcleo positivo 1:320, Anti-DNAds positivo, Anticardiolipina Igm e IgG positivos. Discussão e conclusão: Os achados clínico-laboratoriais de citopenia(s), que levaram à avaliação morfológica de MO, mostrou alteração neutrofílica incomum na rotina hematológica (Células LE), mas cuja evidência orientou o diagnóstico etiológico e terapêutica pertinente para Lúpus Droga-Induzido em paciente idosa, fora da faixa etária epidemiologicamente esperada para tal patologia.