Cadernos de Estudos Sociais (Mar 2012)
Das intervenções de combate à seca às ações de convivência com o semiárido: trajetória de ‘experimentalismo institucional’ no semiárido brasileiro
Abstract
RESUMO Há cerca de duas décadas, a noção de convivência com o semiárido começou a ser uma constante na ação de uma parcela significativa das organizações da sociedade civil no semiárido, bem como figurar nas proposições de políticas públicas e de ações governamentais na região. Analisar a trajetória dessa noção permite entender como essa noção emergiu e como ela conseguiu orientar algumas políticas públicas nesse tempo. Assim, demonstra-se como essa trajetória reflete-se num “experimentalismo institucional”, definido como um processo no qual são experimentadas novas formas de governança na relação entre governo e sociedade. Todavia, esse “experimentalismo institucional” precisa de fases anteriores que vão permitir a sua emergência. Como ponto de partida, a noção de convivência com o semiárido caracteriza-se por uma etapa de “resistência” das organizações sociais em relação às práticas e intervenções de combate à seca. Num segundo momento, a noção de “convivência” vai ganhando uma dimensão política mais ampla, tornando-se articuladora de um “projeto” que vai congregar vários setores e organizações sociais na região. Finalmente, após apresentar essa trajetória, descreve-se as principais características do “experimentalismo institucional”, concluindo com uma reflexão sobre a importância dessa noção na construção das políticas públicas. Palavras-chave: Combate à seca; identidades coletivas; semiárido; ação coletiva; experimentalismo institucional. ABSTRACT For nearly two decades, the notion of “living with the semi-arid” gguides the action of a significant part of civil society organizations in the semi-arid of Brazil and is included in the proposals of public policies and government actions in the region. Analyze the evolution of this concept is necessary to understand how he emerged and how he managed to steer some public policies. We show how this trajectory reflects an “institutional experimentalism”, defined as a process in which new forms of governance in the relationship between government and society are tested. However, this “experimentalism” institutional needs stages that will allow its emergence. First, the notion of “living with the semi-arid” region is characterized by a “resistance” of social organization in relation to practices and interventions to combat drought. Second, the notion is gaining a wider political dimension, able to articulate a project including several sectors and social organizations in the region. Finally, we describe the characteristics of the institutional experimentalism, concluding on the interest of this notion in the reflexion of the construction of public policies. Key words: semi-arid; institutional experimentalism.