Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
PROPOSTA DE REALIZAÇÃO DE PAINEL GENÉTICO REDUZIDO PARA AVALIAÇÃO DE VARIANTES GENÉTICAS EM NEOPLASIAS MIELODISPLÁSICAS
Abstract
Introdução: As Neoplasias Mielodisplásicas (NM) surgem de alterações clonais nas células tronco hematopoiéticas, causando citopenias e risco de desenvolver leucemia mieloide aguda (LMA). Mutações genéticas patogênicas têm impacto terapêutico e prognóstico, mas exomas e painéis genéticos tradicionais geram dados complexos, de interpretação incerta e de alto custo. Estudos de NGS indicam poucos genes com potencial prognóstico e terapêutico, mas a validação desses dados em populações brasileiras ainda não ocorreu. Objetivo: Avaliar a incidência das mutações mais prevalentes e de significado clínico relevante em pacientes brasileiros com NM e propor um painel genético reduzido. Métodos: O estudo incluiu pacientes com NM acompanhados no Hemocentro da Unicamp de 2020-23. Dados clínico-laboratoriais foram coletados de prontuário. As mutações foram identificadas por sequenciamento de DNA com o painel TruSight Myeloid, abrangendo 54 genes. Foram usados para análise dos dados os softwares DRAGEN Amplicon, VarAFT, CancerVar e Maftools. O estudo foi aprovado pelo CEP e todos os pacientes assinaram o TCLE. Resultados: Foram incluídos no estudo 31 pacientes: sexo 12F/19M, idade mediana 68 anos (27-89). A classificação OMS 2016 foi: MDS-SLD (n = 4), MDS-MLD (n = 13), MDS-EB1 (n = 4), MDS-RS-SLD (n = 1), MDS-RS-MLD (n = 8), MDS-del(5q) (n = 1). Quanto ao IPSS-R, as categorias de risco foram: muito baixo (n = 6), baixo (n = 11), intermediário (n = 4), alto (n = 8), muito alto (n = 1), NA (n = 1). Parâmetros hematimétricos: Hb 10,05 g/dL (6,7 – 14,1), neutrófilos 1650 cél./mm3 (268-5534) e plaquetas 164 mil cél./mm3 (130 – 854). A análise genética revelou mutações em: TET2 (48%, n = 15), principalmente missense, patológico em 4; SF3B1 (29%, n = 9, sendo 8 com sideroblastos em anel), todas missense, patológico em 3; U2AF1 (16%, n = 5), todas missense, patogênica em 3. SRSF2, ZRSR2 e STAG2 mutadas (13%, n = 4 cada), com padrões frameshift, inframe e nonsense, respectivamente. ASXL1, EZH2 e ETV6 apresentaram mutações (10%, n = 3 cada). Outras mutações patogênicas de menor prevalência (<5%): SH2B3, ASXL1, FLT3, DNMT3A, NF1, JAK2, EZH2. Discussão: Na população estudada, há alta prevalência de mutações em 8 genes, corroborando com estudos anteriores que mostram um grupo restrito de genes frequentemente mutados em NM. As mutações em TET2 são associadas a maior progressão da NM e maior risco de evolução para LMA, enquanto mutações em SF3B1 conferem melhor prognóstico e terapia alvo específica. Mutações em U2AF1 e STAG2 relacionam-se ao aumento do risco de progressão para LMA, e SRSF2 e ZRSR2, apesar de citadas em outras fontes, ainda não possuem impacto patogênico bem estabelecido. Ressalta-se que as mutações patogênicas mais frequentes foram missense em genes que codificam proteínas que atuam na clivagem do RNA, como nos genes SF3B1 (K700E), U2AF1 (S34F), SRSF2 (R625C) e ZRSR2 (P95H/L). Conclusão: Um painel genético reduzido com genes de alta incidência e impacto conhecido permite predizer o prognóstico na maioria dos pacientes, reduzindo custos e dados clínicos incertos gerados por extensos painéis genéticos.