Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)
PREVALÊNCIA DE HIV EM MULHERES: UMA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS ÚLTIMOS 10 ANOS NO BRASIL
Abstract
O cenário nacional, quanto ao HIV, ainda é profundamente atrelado a estigmas e sofre constantes alterações, refletidas na modificação do perfil epidemiológico das pessoas vivendo com esse vírus. No início, os coeficientes de incidência no sexo masculino eram expressivamente maiores do que feminino. Mais de 40 anos depois, os homens permanecem como os principais acometidos, embora a velocidade de crescimento da epidemia nas mulheres seja substancialmente maior. Isso se deve a uma série de fatores ligados às relações sociais de gênero, e à transposição de inúmeras construções sociais, sem o alicerce de políticas efetivas para essa população. Cabe ressaltar que o HIV em si já configura uma grave questão de saúde pública, sendo a maior prevalência em mulheres um agravamento, tendo em vista a associação com a transmissão vertical. Propõe-se avaliar a evolução temporal da prevalência de HIV em mulheres de 2010 a 2020, além da determinação do perfil epidemiológico mais prevalente. Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo observacional, baseado em dados dos Boletins Epidemiológicos de HIV/AIDS da Secretaria de Vigilância em Saúde, além dos quantitativos populacionais, de 2010 a 2020, oriundos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Foi observado um aumento da incidência de HIV em mulheres, passando de 4,08, em 2010, para 10,69 em 2019, com ápice em 2017, de 11,84 casos por 100 mil habitantes. Contudo, evidencia-se uma abrupta diminuição da incidência em 2020, em que passou para 3,36, decorrente de uma provável subnotificação, consequente da pandemia de COVID-19. Quanto à faixa etária, nos anos observados, notou-se uma prevalência do HIV entre mulheres com 25 a 34 anos, todavia o maior aumento constatado foi na população acima de 60 anos, com crescimento de 71,05%. Acerca da etnia, entre 2010 e 2013, houve um predomínio de casos em mulheres brancas, cenário modificado entre os anos de 2014 a 2020 com prevalência de mulheres pardas. Por fim, sobre a principal via de transmissão, constata-se que apesar do contínuo predomínio da transmissão sexual, ocorreu um aumento significativo de 97,50% da transmissão vertical do HIV de 2010 a 2020. Portanto, é impossível elaborar ações de prevenção sem considerar as relações de gênero enquanto relações de poder. Dessa forma, as políticas públicas derivadas do início da epidemia precisam ser revistas e adaptadas, conferindo mecanismos efetivos e aplicáveis de prevenção e assistência para todos os públicos.