Trabalhos em Linguística Aplicada (Dec 2008)

Quando ele fica bravo, o português sai direitinho; fora disso a gente não entende nada: o contexto multilíngüe da surdez e o (re)conhecimento das línguas no seu entorno When he's mad, his portuguese is ok; otherwise, we can't understand anything: the deaf multilingual context and the acknowlegment of its surrounding languages

  • Ivani Rodrigues Silva

DOI
https://doi.org/10.1590/S0103-18132008000200008
Journal volume & issue
Vol. 47, no. 2
pp. 393 – 407

Abstract

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O presente artigo tem por objetivo fazer uma reflexão sobre as línguas que habitam o entorno da criança surda filhas de pais ouvintes com o intuito de lançar luz à(s) língua(s) que nasce(m) nesse contexto pela necessidade que mães ouvintes e crianças surdas têm de se fazer entender na ausência de uma língua convencional (seja o português da comunidade majoritária ou a língua de sinais que é utilizada pela comunidade surda adulta). A motivação deste texto vem do desconforto que sinto em relação à noção de língua que permeia a área da surdez, a qual não permite que sejam consideradas como legítimas as diferentes as línguas que circulam nesse espaço, como uma alternativa de linguagem. Tal noção está ancorada em uma visão de língua homogênea e idealmente concebida (Cesar e Cavalcanti, 2007) e na dicotomização dessas línguas em apenas língua oral e língua de sinais pode invalidar ou colocar em desvantagem outras linguagens que nascem nesse espaço pela própria necessidade que têm pais ouvintes de se comunicarem com seus filhos surdos.This article presents a reflection upon the languages that surround deaf children of hearing parents. Its aim is to shed light on the languages that are created in this context, because of the need hearing mothers and deaf children have of understanding each other in the absence of a conventional language (be it Portuguese, spoken by the majority of the community, or be it sign language, which is spoken by the deaf adult community). The motivation for this reflection comes from the discomfort I feel about the notion of language commonly used when discussing deafness. This notion is anchored in a definition of language as homogeneous and ideally conceived (Cesar e Cavalcanti, 2007). Such conceptions do not consider the different languages that exist in this context to be legitimate and therefore to be a language alternative. The classification of these languages exclusively into either oral language or sign language can invalidate or bring disadvantages to the other languages that are constituted in this context through the very need of hearing parents to communicate with their deaf children.

Keywords