Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
COMPARAÇÃO DE TÉCNICAS DE TRIAGEM DE HEMOGLOBINA S EM DOADORES DE SANGUE
Abstract
Introdução: Em Hemoterapia, um dos exames laboratoriais obrigatórios a ser realizado no sangue doado é a pesquisa de Hemoglobina S (HbS), um tipo de hemoglobina variante. A presença de HbS em heterozigose (HbAS), caracteriza o traço falciforme, que é muito frequente no Brasil: o indivíduo não apresenta doença, é clínica e hematologicamente saudável, estando, portanto, apto a realizar doação de sangue. Entretanto, esse sangue possui uma utilização restrita, principalmente em portadores de hemoglobinopatias, na acidose grave, nos recém-nascidos e na transfusão intra-uterina, devido ao potencial de falcização das hemácias nessas condições do receptor. As demais variantes de Hb não são impeditivas para o uso dos hemocomponentes e por isso a maioria dos serviços de hemoterapia não realiza triagem para estas. Objetivo: Comparar duas metodologias de triagem de hemoglobina S na rotina de triagem de doadores do Serviço de Hemoterapia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Material e métodos: Foram comparados os resultados do teste de solubilidade com o teste de Cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) para a identificação de variantes de hemoglobina (Hb). O resultado alterado por qualquer um dos métodos implicava na sinalização dos hemocomponentes com presença de Hb variante. As amostras com resultado positivo no teste de solubilidade foram confirmadas pelo teste de Falcização em lâmina e quando o HPLC era positivo foi realizada a eletroforese de Hb. Foram analisadas todas as doações no período de setembro de 2022 a junho de 2024. Resultados: No total, 12639 doações foram testadas em ambas as metodologias, sendo 130 (1,03%) doações com triagem indicativa de presença de Hb variante por HPLC. Destas, 103 indicaram a presença de HbS, 18 de HbC, 7 de HbD e 2 não apresentavam Hb variante na eletroforese de Hb. A triagem pelo teste de solubilidade apresentou 100 (0,79%) doações com teste positivo para HbS, todas confirmadas pela falcização e por HPLC. O teste de solubilidade falhou na identificação de 3 doações que foram identificadas apenas pelo HPLC. Desta forma, para a identificação de HbS o teste de solubilidade apresentou sensibilidade de 97,1% e especificidade de 100%, enquanto o HPLC demonstrou sensibilidade de 100% e especificidade de 99,8%. Conclusão: A triagem por teste de solubilidade é um teste bastante simples e barato, no entanto não identificou 100% das doações com HbS. O HPLC é uma técnica automatizada, que permite maior controle sobre o processo, além do conhecimento das demais variantes, o que pode otimizar o uso dos hemocomponentes em pacientes com hemoglobinopatias. No entanto, é uma técnica bastante onerosa e de difícil implantação em serviços de pequeno porte. Análises mais detalhadas são necessárias para identificar os casos de falha no teste de solubilidade e a custo-efetividade do HPLC.