Revista Linguística (Apr 2024)

Diacronia de processos de construção de textos em cartas de leitor paulistas

  • Eduardo Penhavel,
  • Alessandra Regina Guerra,
  • Joceli Catarina Stassi-Sé,
  • Michel Gustavo Fontes,
  • Solange de Carvalho Fortilli

DOI
https://doi.org/10.31513/linguistica.2024.v20n1a62794
Journal volume & issue
Vol. 20, no. 1
pp. 288 – 312

Abstract

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Este artigo insere-se no quadro teórico-metodológico da abordagem diacrônica de processos de construção textual formulada no interior do Projeto para a História do Português Brasileiro, uma abordagem que aplica princípios da Perspectiva Textual-Interativa ao estudo diacrônico do texto. O trabalho tem os seguintes objetivos: descrever como os processos de organização tópica, parentetização e repetição se desenvolvem diacronicamente em cartas de leitor paulistas e formular a hipótese de que a diacronia desses processos estaria ligada a uma alteração na finalidade sociocomunicativa e a uma alteração no estilo das cartas. O material de análise é composto por cartas de jornais paulistas publicadas nos séculos XIX e XX. Os resultados destacam as seguintes mudanças no uso desses processos: expressiva queda do percentual de emprego da unidade tópica de interpelação, pela qual o escrevente dirige um pedido a um destinatário; drástica diminuição da incidência de parênteses com foco no interlocutor; forte redução de repetições com foco na interatividade. Conforme se argumenta no artigo, os dados sugerem que, historicamente, as missivas passariam da finalidade de discutir um tema como sustentação de uma solicitação para a finalidade de discutir um tema como expressão de opinião e migrariam de um estilo textualmente mais interativo para um estilo menos interativo. Essas duas alterações estariam entre as motivações das mudanças nos processos textuais analisados. Ao correlacionar a diacronia desses processos com alterações na finalidade sociocomunicativa e no grau de interatividade das cartas, o artigo procura, em última instância, evidenciar a relação intrínseca que existe entre linguagem e intersubjetividade.