Pesquisa Veterinária Brasileira (Jul 2007)

Meningoencefalite por herpesvírus bovino-5 Meningoencephalitis by bovine herpesvirus-5

  • Daniel R. Rissi,
  • Raquel R. Rech,
  • Eduardo F. Flores,
  • Glaucia D. Kommers,
  • Claudio S.L. Barros

DOI
https://doi.org/10.1590/S0100-736X2007000700001
Journal volume & issue
Vol. 27, no. 7
pp. 251 – 260

Abstract

Read online

A meningoencefalite por herpesvírus bovino-5 (BoHV-5) é uma doença infecto-contagiosa, aguda ou subaguda, geralmente fatal e que afeta principalmente bovinos jovens submetidos a situações de estresse. A doença tem sido freqüentemente diagnosticada em várias regiões do Brasil e em outras partes do mundo. BoHV-5 é um vírus da família Herpesviridae e subfamília Alphaherpesvirinae e possui como genoma uma molécula de DNA fita dupla. Esses vírus são caracterizados por rápida replicação em cultivo, que resulta em lise das células infectadas, e afetam várias espécies de hospedeiros, estabelecendo latência principalmente em neurônios de gânglios sensoriais. A transmissão de BoHV-5 ocorre principalmente por contato direto ou indireto entre bovinos. Após a replicação primária nas mucosas oral, nasal, ocular e orofaríngea, o vírus invade as terminações nervosas e é transportado até os neurônios de gânglios sensoriais, onde replica ativamente e estabelece latência. A invasão viral do encéfalo pode resultar em replicação viral massiva e produção de doença neurológica. A maioria dos bovinos que desenvolvem doença neurológica morre em decorrência de meningo-encefalite, porém alguns podem desenvolver infecção subclínica e, após recuperação, permanecerem portadores da infecção latente. A disseminação viral nos rebanhos é facilitada em situações de grande concentração de animais, introdução de bovinos e desmame de lotes de bezerros em idade que coincide com o decréscimo da imunidade passiva. Certas condições, naturais ou induzidas, podem reativar o vírus do estado latente e propiciar condições para sua transmissão e disseminação a outros indivíduos. A doença pode ocorrer na forma de surtos ou em casos isolados, com coeficientes de morbidade que podem variar de 0,05%-5%; a letalidade é quase sempre de 100%. Os sinais clínicos incluem depressão, descarga nasal e ocular, ranger de dentes, andar em círculos, cegueira, febre, movimentos de pedalagem, disfagia, dor abdominal, nistagmo, tremores, sialorréia, incoordenação, opistótono, pressão da cabeça contra objetos, quedas e convulsões. A evolução do quadro clínico pode variar de 1 a 15 dias. Achados de necropsia podem estar ausentes, mas normalmente se observa tumefação das porções rostrais do córtex telencefálico e achatamento das circunvoluções, com segmentos amarelados e amolecidos (malacia). Com a evolução da doença, essas áreas se tornam gelatinosas e acinzentadas, e em casos avançados ocorre o desaparecimento segmentar do córtex telencefálico frontal (lesão residual). Em muitos casos podem ser observados focos de malacia na substância cinzenta dos núcleos basais e do tálamo. Histologicamente observa-se meningoencefalite não-supurativa necrosante, principalmente no córtex telencefálico frontal, associada a inclusões intranucleares eosinofílicas em astrócitos e neurônios, embora a freqüência dessas inclusões seja irregular. O diagnóstico de meningoencefalite por BoHV-5 deve ser feito com base nos achados epidemiológicos, clínicos, de necropsia e histopatológicos, associados com o isolamento do vírus em cultivo celular células ou com detecção de antígenos virais em seções do encéfalo ou em células descamadas presentes nas secreções nasais. A identificação e caracterização de BoHV-5 pode ser realizada por meio de testes com anticorpos mono-clonais, reação em cadeia de polimerase (PCR) e por análise de restrição genômica. Não há tratamento específico para a meningoencefalite por BoHV-5. Como o BoHV-1 e o BoHV-5 são antigenicamente muito semelhantes, recomenda-se a vacinação com vacinas para BoHV-1 como forma de reduzir as perdas causadas por BoHV-5, principalmente durante surtos de doença neurológica. Adicionalmente, outras medidas podem ser adotadas para prevenir ou reduzir os prejuízos ocasionados pela enfermidade, como testar sorologicamente os bovinos a serem introduzidos nos rebanhos, minimizar situações de estresse, sobretudo no desmame, e isolamento dos bovinos afetados.Meningoencephalitis caused by bovine herpesvirus-5 (BoHV-5) is an often fatal, acute or subacute infectious disease that affects mainly young cattle under stressing conditions. The disease has been recognized in several Brazilian regions and in other parts of the world. BoHV-5 is a double stranded DNA virus member of the Herpesviridae family and subfamily Alphaherpesvirinae. The virus is characterized by rapid and lytic replication in cell cultures and by the ability to establish lifelong latent infection in sensory nerve ganglia of the host. BoHV-5 is transmitted mainly by direct and indirect contact and replicates acutely in the oral, nasal, oropharingeal or ocular mucosae. After primary replication, the virus invades nerve endings and is transported to the neuron cell bodies of the sensory ganglia where it replicates actively and/or establishes latency. Viral invasion of the brain may result in massive virus replication and production of neurological disease. Virtually all cattle developing neurological disease die of meningoencephalitis; yet the infection may be subclinical in some animals. These animals recover and become latently infected. Viral dissemination within a herd is facilitated by conditions such as crowding, introduction of cattle from other herds and weaning of calves in ages that coincide with decrease of passive immunity. Certain natural or induced conditions may reactivate the latent virus and favor its transmission and dissemination to other susceptible individuals. The disease may occur as outbreaks or as sporadic cases, with morbidity rates ranging of 0.05%-5%; lethality is almost always 100%. Clinical signs include depression, nasal and ocular discharge, grinding of teeth, circling, blindness, fever, paddling movements, disphagia, abdominal pain, nystagmus, muscle tremors, drooling, incoordinated gait, opisthotonus, head pressing, falls and convulsions. Clinical course is usually 1-15 days. Necropsy findings may be absent but often there is swollen of the rostral portions of the cerebral cortex and flattening of gyri, with softening and segmental yellow discoloration (malacia). As the disease progresses the affected areas become gelatinous and grey and, in advanced cases, there is segmental loss of the cerebral cortex of the frontal lobe of the brain (residual lesion). In several cases there is malacia of the basal nuclei and of the thalamus. Histologically, there is necrotizing non-suppurative meningoencephalitis affecting mainly the cerebral cortex of the frontal lobe associated with eosinophilic intranuclear inclusion bodies in neurons and astrocytes, although the frequency of the inclusion bodies is inconsistent. The diagnosis of meningoencephalitis by BoHV-5 should be based on epidemiology, clinical signs, necropsy and histological findings. The diagnosis should be confirmed by viral isolation in cell culture and/or by detection of viral antigens in brain sections or in exfoliated cells from nasal secretions. The identification and characterization of BoHV-5 can be done by the use of mono clonal antibodies, polymerase chain reaction (PCR) and/or by restriction enzyme analysis of the viral genome. There is no specific treatment for the disease. As BoHV-1 and BoHV-5 are antigenically related, vaccination using BoHV-1 vaccines may be recommended as a means of reducing the losses caused by BoHV-5 infection, mainly during outbreaks of neurologic disease. Additionally, measures such as serologic testing of new additions to the herd; and management practices to prevent stress and to reduce conditions for virus dissemination among animals may help in reducing the incidence and the consequences of BoHV-5 infection and disease.

Keywords