Revista Portuguesa de Cardiologia (Mar 2018)

Progressão ultrarrápida de doença coronária ou placa instável não detetada?

  • Fernando Montenegro Sá,
  • Catarina Ruivo,
  • Luís Graça Santos,
  • Alexandre Antunes,
  • Francisco Campos Soares,
  • José Baptista,
  • João Morais

Journal volume & issue
Vol. 37, no. 3
pp. 259 – 264

Abstract

Read online

Resumo: A doença coronária de natureza aterosclerótica raramente se manifesta nas primeiras décadas de vida, encontrando‐se assim esta população muito pouco representada nos estudos de larga escala. Os mecanismos e a história natural da doença coronária nesta população são diferentes da população mais idosa. Estudos recentes sugerem uma mais rápida progressão da doença nos indivíduos jovens, os quais apresentam placas ateroscleróticas com maior instabilidade. A correlação entre ambos os factos permanece por esclarecer. No presente trabalho, descreve‐se o caso clínico de um homem que, aos 41 anos, apresenta a primeira manifestação de doença coronária sob a forma de enfarte agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST, tendo realizado tratamento percutâneo das artérias culpadas (lesão 70‐90% em bifurcação da artéria coronária circunflexa com primeira obtusa marginal e lesão suboclusiva de ramus intermédio). Registou‐se também uma lesão angiograficamente não significativa, estimada em cerca de 30% localizada na artéria descendente anterior. Dez dias após alta, o doente sofreu novo enfarte agudo miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST. Repetindo o estudo angiográfico, este revelou uma surpreendente lesão suboclusiva na artéria descendente anterior, a qual não tinha sido intervencionada. A propósito deste caso clínico, os autores fazem uma revisão da literatura relativa à fisiopatologia da progressão rápida de lesões coronárias e à abordagem de lesões não significativas em doentes com síndroma coronária aguda, especialmente na população mais jovem. Abstract: Coronary artery disease rarely manifests itself in the first decades of life, which explains why this population is underrepresented in clinical studies. The mechanisms and natural history of the disease seem to differ between this population and older patients. Recent studies suggest a more rapid disease progression in youth, presenting more unstable atherosclerotic plaques, although this correlation has yet to be proven. In this paper, we present the case of a 41‐year‐old man who presented with a non‐ST elevation myocardial infarction, with percutaneous coronary intervention of the culprit lesion (70–90% lesion at bifurcation of the circumflex artery with the first marginal obtuse artery and a sub‐occlusive lesion of the ramus intermedius). There was also a non‐significant lesion (estimated at 30%) located in the left anterior descending coronary artery. Ten days after discharge, the patient suffered another non‐ST elevation myocardial infarction. The coronary angiography revealed a surprising sub‐occlusive lesion of the left anterior descending coronary artery. Regarding this case, the authors reviewed the literature on the pathophysiology of rapidly progressive coronary artery disease and the approach for non‐significant lesions in patients with acute coronary syndrome, especially in the younger population. Palavras‐chave: Síndrome coronária aguda, Adulto jovem, Doença coronária, Placa vulnerável, Keywords: Acute coronary syndrome, Young adult, Coronary artery disease, Vulnerable plaque