Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

INVESTIGAÇÃO DO MICRO-RNA 122 COMO POTENCIAL BIOMARCADOR DE PROGNÓSTICO NA HEMOCROMATOSE HEREDITÁRIA

  • N Kersting,
  • FP Athayde,
  • L Sekine,
  • TGH Onsten,
  • SC Wagner,
  • S Leistner-Segal

Journal volume & issue
Vol. 43
pp. S8 – S9

Abstract

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Conceitua-se Hemocromatose Hereditária (HH) como uma condição clínica, na qual a falha na expressão do hormônio hepcidina acarreta depósitos de ferro em excesso, podendo causar disfunções em múltiplos órgãos. O tratamento mais eficaz se dá pelo procedimento de flebotomias, intervaladas de acordo com a impressão clínica, sendo fundamental os cuidados que se estendem à alimentação e exames. No entanto, por se tratar de uma doença com sintomas inespecíficos, como dor abdominal, cansaço entre outras atreladas às comorbidades, a terapêutica não impede o potencial comprometimento pelo ferro de órgãos como fígado, pâncreas, baço, coração e pulmão. Além disso, não existe descrição na literatura de bons marcadores deste processo que relacione o excesso do metal e o acometimento tecidual. Micro-RNAs (miRNAs) são pequenas moléculas de RNA não codificante compostas por aproximadamente 22 nucleotídeos. Essas pequenas moléculas regulam a expressão gênica e agem no controle de diversos processos biológicos. Na literatura, estudos sobre estas moléculas e o metabolismo do ferro se restringem, majoritariamente, a cultivos celulares, modelos animais, sendo apenas um estudo vinculado a pacientes com HH, relacionando a expressão ao desfecho de degeneração macular. Sendo assim, este trabalho, a partir da observação de estudos que vinculam o micro-RNA 122 a desfechos hepáticos compatíveis ao quadro de HH, teve por objetivo geral analisar a expressão desse em amostras de pacientes com diagnóstico clínico e/ou molecular de HH, com diferentes níveis de ferritina sérica ao período de recrutamento. Foi considerado critério diagnóstico primário a homozigose ou a heterozigose composta para as variantes testadas (C282Y ou H63D e S65C), em conjunto à hiperferritinemia de base. Quando apenas o último critério foi atendido, foi investigado no histórico do paciente exame de ressonância ou biópsia que justificassem o caso. Foram analisadas 26 amostras sanguíneas de pacientes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, através de quantificação por RT-qPCR dos níveis de miR-122. Os pacientes foram estratificados em 3 grupos conforme seus níveis de ferritina. O grupo 1 continha amostras de pacientes em manutenção, com ferritina abaixo de 299 ng/uL, o grupo 2 continha pacientes com níveis entre 300 e 1099 ng/uL e o grupo 3 continha pacientes com níveis entre 1100 e 2500 ng/uL de ferritina. Foi demonstrado na literatura, o possível envolvimento do miR-122 na homeostase do ferro, provavelmente regulando a expressão de hepcidina, uma vez que existe a modulação da expressão de mRNAs responsáveis pela expressão do gene HFE, HVJ e HAMP. A integração e análise dos resultados do perfil da expressão do miR-122, dos genótipos dos pacientes e de suas relações adjacentes com outros achados clínicos registrados em prontuários médicos demonstrou que os pacientes do grupo 3 apresentaram maior expressão do miR-122, do que pacientes do grupo 1 (p = 0,03), bem como maiores níveis de ferritina após o tratamento em relação a pacientes do grupo 2 (p < 0,01), mesmo sem diferenças significativas do número de sessões de flebotomia entre esses grupos, indicando uma provável maior resistência ao tratamento. Essas e outras diferenças significativas entre os grupos de pacientes com concentração de ferritina normal e pacientes com concentração de ferritina elevada podem classificar o miR-122 como um possível biomarcador para o prognóstico de pacientes com HH.