Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
IMPACTO DA CLASSIFICAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE DE 2022 NA LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA
Abstract
Objetivos: Avaliar o impacto da classificação atualizada da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2022 no prognóstico de pacientes com Leucemia Mieloide Crônica (LMC). Material e métodos: Estudo retrospectivo observacional unicêntrico. Entre janeiro de 2015 e dezembro de 2023, coletamos dados clínicos e laboratoriais dos prontuários de pacientes recém diagnosticados com LMC, tratados com imatinibe 400-600 mg/dia em primeira linha, e comparamos os desfechos usando as classificações OMS 2017, Consenso Internacional (ICC 2022) e OMS 2022. Resultados: Foram avaliados 139 pacientes, com idade mediana de 53 anos (17-83), 51% do sexo feminino. Ao diagnóstico: a média de leucócitos foi 117.2 × 109/L (5.4-588.0), basófilos 3.2% (0-18), blastos 2% (0-60), plaquetas 387 × 109/L (71-3.862), hemoglobina 11.4 g/dL (3.5-16.6), blastos na medula óssea 1% (0-63) e basófilos na medula óssea 1.5% (0-45%). O escore Sokal foi baixo (28%), intermediário (43%) e alto (29%). Dois pacientes faleceram antes de iniciar imatinibe e 137 iniciaram em tempo médio de 10 dias. Segundo a OMS 2017/ICC 2022, 90% estavam em fase crônica (FC), 6% em fase acelerada (FA) e 4% em crise blástica (CB); e OMS 2022, 96% estavam em FC e 4% em CB. Houve uma mudança significativa na classificação OMS 2022 em comparação à versão de 2017 (P < 0.0001%). Em 8/139 (6%) houve mudança da classificação de FA para FC. Desses 8, 5 pacientes trocaram o tratamento para um inibidor de tirosina quinase (ITQ) de 2ªgeração devido à falha e dois necessitaram de transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas; um faleceu pelo procedimento. Um caso progrediu para CB, um paciente perdeu seguimento e quatro continuam em acompanhamento. No total, houve 22 óbitos, 15 (68%) relacionados à LMC. SG e SLP de acordo com Sokal foram 100%, 87% e 56% e 100%, 85% e 56%, para Sokal baixo, intermediário e alto risco, respectivamente (ambos P < 0.0001). Segundo OMS 2017/ICC 2022, SG foi 86% e 70% em 60 e 96 meses para FC, 0% para FA e 25% para CB (P < 0.0001); de acordo com a OMS 2022 foi 85% e 69% em 60 e 96 meses para FC e 25% para CB, respectivamente (P < 0.00001). OMS 2017/ICC 2022, SLP em 60 e 96 meses foi 85% e 69% para FC e 25% para CB (P < 0.0001); segundo a OMS 2022, 83% e 68% em 60 e 96 meses na FC e 25% na CB (P < 0.0001). Na análise multivariada, os fatores independentes para SG foram % de basófilos, fase OMS 2022 e idade ao início do ITQ (P = 0,013;< 0.0001; 0.019) e para SLP foi OMS 2022 (CB) e idade ao diagnóstico (P < 0.0001 e 0.010). Discussão: A justificativa da omissão da FA na nova classificação da OMS deveu-se aos excelentes resultados e aumento de sobrevida com os ITQ. No entanto, a ICC 2022 manteve a definição de uma doença trifásica como anteriormente presente na OMS 2017. A ICC 2022 manteve como critérios de FA presença de 10-19% de blastos, basófilos ≥20% e presença de alterações citogenéticas adicionais. Conclusão: A omissão da FA da nova classificação OMS 2022 não impactou significativamente SG e SLP na nossa coorte, mas em termos individuais, pode impactar principalmente a questão do tratamento, pois no Brasil doses maiores de ITQ só são aprovadas para casos definidos como fase avançada, de acordo com a classificação antiga. Idade, maior contagem de basófilos e doença avançada ao diagnóstico permanecem fatores relevantes associados a piores resultados.