Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)
LINFOMA DE CÉLULAS T PÓS TRATAMENTO DE LINFOMA DIFUSO DE GRANDES CÉLULAS B: ASSOCIAÇÃO DE DOENÇAS OU SEGUNDA NEOPLASIA?
Abstract
Introdução: O diagnóstico de linfomas compostos, síncronos é infrequente, já a associação de linfoma não Hodgkin difuso de grandes células B (LNHDGCB) variante anaplásico e linfoma periférico de células T (LPCT) extra nodal é rara. Objetivos: Relatar caso de paciente com diagnóstico de LPCT após tratamento recente de LNHDGCB variante anaplasico. Relato: Mulher de 51 anos diabética, relata perda de 19 kg em 4 meses, inapetência, nódulos em região inguinal direita e febre esporádica há um mês. Biópsia de gânglio evidenciou LNHDGC variante anaplásico (MUM-1, LCA, CD 79A, CD30, CD20 positivos e KI-67 70%). As tomografias de estadiamento demostraram linfonodomegalia em região cervical, mediastinal, axilares, retroperitoneais periaórtcas e ilíacas, medula óssea sem infiltração. Recebeu 6 ciclos de R-CHOP com PET CT negativo 2 meses pós término de tratamento. Após um ano apresenta tumoração em região medial de coxa direita com cerca de 12cm, ulcerada e bordos endurecidos, sem melhora com antibioticoterapia. Biopsia da lesão revelou LPCT (MUM-1, CD3, CD8, CD7, CD4, CD2 e KI-67 60%). Estadiamento IE realizando radioterapia com sinais de regressão da lesão. Discussão: O desenvolvimento sequencial de linfomas de linhagem diferentes é raro. Documentamos o LPCT extra nodal cutâneo localmente invasivo, doze meses após término do tratamento. Os casos descritos foram relacionados a transplante de medula óssea, tratamento de LH ou de LLA na infância após quimioterapia e/ou radioterapia. Vários quimioterápicos, defeitos genéticos, imunosenescência e a desregulação imunológica foram considerados fatores desencadeantes. As neoplasias secundárias induzidas por drogas, costumam ocorrer em média 5,5 anos, de forma variável de acordo com a idade, neoplasia e o tipo de tratamento para a neoplasia primaria. Os pacientes com diagnóstico pregresso de Linfoma de Hodgkin, Mieloma múltiplo, exposição a radioterapia, portadores de doenças autoimunes, imunodeficiências primárias ou adquiridas e síndrome linfoproliferativa autoimune, parecem ser de maior risco. Por outro lado, a estimulação contínua do vírus EBV causa a desregulação e a proliferação anormal de células T, resultando em uma expansão clonal das células danificadas pela quimioterapia. A expressão de CD30 associada a infecção pelo EBV está associada a evolução desfavorável no LNHDGCB variante anaplasico. Parece provável que o LPCT possa derivar de células T com alterações genéticas e danos decorrentes da quimioterapia ou da estimulação viral crônica. No caso excluímos as patologias de maior risco, resta especular o papel das alterações relacionadas a expressão de MYC e BCL2 e /ou BCL6 e mutação TP53 no LNHDGCB variante anaplasico e ao efeito da quimioterapia, pois não foi possível realizar a pesquisa do EBV, no entanto atribuir a ocorrência prematura do LPCT, após remissão completa do LNHDGCB, ao efeito único da quimioterapia parece menos provável. Conclusão: O diagnóstico de linfomas de forma sincrônica é raro, o próprio LNHDGCB variante anaplasica é menos frequente, com características patológicas que o distinguem dos demais. A maioria evolui de forma agressiva. Casos de LNHDGCB variante anaplasico têm uma alta frequência de mutação TP53 e anormalidades genéticas de MYC, BCL2 e BCL6. Agressão imunológica causada pela quimioterapia podem favorecer o desenvolvimento de um segundo linfoma de linhagem distinta. Novos estudos são necessários para entender a patogênese e facilitar o diagnóstico precoce.