Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
CARDIOPATIA PÓS-QUIMIOTERAPIA PARA LINFOMA GÁSTRICO TIPO MUCOSA ASSOCIATED LYMPHOID TISSUE: RELATO DE CASO
Abstract
Introdução: O linfoma tipo Mucosa Associated Lymphoid Tissue (MALT) é uma neoplasia primária do tipo não-Hodgkin derivada do tecido linfoide presente na mucosa e não relacionado aos linfonodos. Cerca de 50% dos casos desse tipo de neoplasia ocorrem no estômago, tendo como características clinicopatológicas se relacionarem ao surgimento do tecido linfoide associado à mucosa gástrica em resposta a estímulos antigênicos e a agressões ao epitélio do orgão, ambos comuns na infecção pela bactéria Helicobacter pylori. O protocolo R-CHOP é um regime de quimioterapia amplamente utilizado para tratar certos tipos de linfoma não-Hodgkin. Há poucas contraindicações do uso deste esquema terapêutico pelo baixo risco cardiotóxico em pacientes sem restrição à esses medicamentos, principalmente quando jovens e sem cardiopatia prévia. Objetivo: Relatar um caso de bloqueio de ramo direito persistente provocado após esquema R-CHOP em paciente de 38 anos previamente hígida, em tratamento de linfoma não Hodgkin tipo MALT. Método: A pesquisa foi realizada com base em dados fornecidos pela participante da pesquisa, bem como revisões em prontuários fornecidos pela Instituição envolvida. O tempo necessário foi durante a internação até a alta, tendo sido realizado contato com a participante e/ou seus familiares quando necessário. Relato de Caso: Mulher, 38 anos, com diagnóstico de gastrite por H. Pylori, queixou-se de dor epigástrica de repetição associada a perda ponderal e fadiga há 4 anos. Foi submetida a endoscopia que revelou lesão com suspeita de neoplasia em antro gástrico. À biópsia da área afetada associada a imunohistoquímica, foi diagnosticado linfoma não-Hodgkin do tipo MALT. Iniciou-se tratamento quimioterápico com o protocolo RCHOP, durante o qual a paciente relatou piora da fadiga, sendo observada frequência cardíaca e pressão arterial reduzidas. Foi submetida a eletrocardiograma após a quimioterapia, sendo diagnosticado bloqueio de ramo direito grau 1 persistente. Posteriormente, foi efetuado ecodopplercardiograma transtorácico com resultados normais. Paciente atualmente hígida, em manejo do quadro neoplásico anterior. Discussão: A literatura documenta presença de risco de lesão cardíaca pelo uso da doxorrubicina, droga de ação dose dependente. As 2 principais lesões decorrentes deste esquema quimioterápico são a cardiomiopatia e insuficiência cardíaca descompensada. São fatores de risco para o desenvolvimento destas complicações o sexo feminino; a dose cumulativa maior que 400 mg/m2; o uso concomitante de outros quimioterápicos cardiotóxicos como a ciclofosfamida; radioterapia prévia; rápida infusão da medicação, extremos de idade e doenças prévias com comprometimento cardiovascular. Conclusão: Conclui-se imprescindível uma busca ativa minuciosa do histórico do paciente oncológico em busca de doenças cardiovasculares prévias. Diante de esquema quimioterápico que contemple a doxorrubicina, é recomendado rastreamento precoce de lesão miocárdica, dando preferência à troponina ultrassensível ou técnica do Global Longitudinal Strain sobre a ecocardiografia. Sempre que identificado dano miocárdico, deve-se intervir precocemente com tratamento adequado e acompanhamento cardiológico de longa duração, pois estas lesões tendem a permanecer a longo prazo.